31.8.07

A sul, sempre a sul

"Peregrinos de líquidas estradas. Peregrinos dos metálicos subúrbios, onde o grito mudo nos anestesia. Viajante das luas marítimas, beijar-te, ter-te nos dedos e no calor ardente da pele. Acredito, amor, que a sensação de uma luminosidade percorre o teu corpo navegante. Viajar contigo nas flores húmidas do bosque, no musgo sumarento dos ventos que te devastam o corpo. Descansar em cima do gigantesco nenúfar lavrado na tempestade. Viajar contigo dentro de uma flor branca, carnívora. Adormecer os sentidos no pólen metálico do mastro, sem horas, viajar como qualquer coisa atirada ao rio que, flutuando, se desintegra no tempo. E ficaremos ali, imóveis, à espera de nada. Múrmurio de estiolada lua que me povoa o sonho. Ilha nua em canto fúnebre. Ó meu amante, meu porto de regresso, templo nu, junto ao mar que arrasta nossos corpos liquefeitos, e semeia ossos na marítima memória."

Al Berto, O Medo.

1 comentário:

Anónimo disse...

já tinha saudades!

Não vieste à terra de Viriato?! :(

bom regresso.

abraço,

H.