Não me considero "afrancesado", nem filosoficamente falando, nem culturalmente, nem de forma nenhuma. Também não tenho especial apreço por M. Heidegger: nem pelo filósofo, nem pelo homem que, para além de ser um hipócrita, também não devia nada à amizade (a traição ao "amigo" e mestre Edmund Husserl é um belo exemplo da personalidade abjecta do homem).
Dito isto, deixo-lhe aqui, caro Funes, apenas uma ou outra réplica e um contributo para a resposta que solicitou e que espero seja apenas o mote para a WOAB a enriquecer.
Parece-me que gosta da filosofia analítica por esta, alegadamente, emprestar um método "científico" à filosofia, expurgando-a dos "floreados" literários. Se bem entendo, gosta de um certo rigor matemático aplicado à filosofia. Curioso que tenha falado em Poincaré: foi o próprio matemático que declarou que para a resolução dos maiores problemas que lhe foram colocados, nunca foi utilizado qualquer método, mas tão somente o que designou por "centelha criadora". Exactamente a mesma "centelha" que permite aos artistas (entre os quais, naturalmente, os poetas) criarem. Mas é apenas uma curiosidade.
Quanto à questão do(s) método(s) analítico(s), não passa exactamente disso: de método utilizado por alguns filósofos mas que não reduz, de forma nenhuma, a filosofia apenas a isso. Aliás, faz-me confusão como em Portugal se perde tempo a discutir esta questão: por muito que gritem, não há cá filosofia "pura e dura". A filosofia é constituída pelos contributos de todas as suas disciplinas, entre as quais, naturalmente, a filosofia analítica.
Quanto à sua questão, Heidegger contribuiu para a filosofia através da sua reflexão sobre a ontologia: pode parecer uma coisa de somenos importância, pois não é nada fácil identificar a sua mensurabilidade. Mas a questão do(e) Ser é fundamental à filosofia. É, assim, uma espécie de investigação fundamental (não aplicada), mas cujos resultados podem ser relevantes para aplicações mais objectivas (como qualquer outra investigação fundamental). Basta, para isso, lembrarmo-nos das consequências hermenêuticas ou éticas que resultaram da continuação do seu trabalho. É certo que a linguagem utilizada por Heidegger é algo obscura: mas que raio, a de Descartes, Hegel ou Kant não era melhor (nem me atrevo a falar em Sartre, pois esse deve ser um afrancesado absoluto e Camus não deve passar de um romancista).
Portanto, assim sendo, acho uma absoluta perda de tempo (insisto), discutir se a filosofia reduz-se, ou não, apenas a essa sua dimensão analítica, e acho ainda mais absurdo (não me refiro ao do Camus, mas mesmo ao adjectivo) que hajam professores de filosofia a tomarem partidos nesta questão que sempre me pareceu pateta!
3 comentários:
ena isto é que é um post.....
li reli....
fui ver o que tinha sido escrito,
acho que funes lhe deu a resposta no "comento" anterior............
jocas maradas
Concordo com o que aqui dizes, Sancho. Parece-me redutor querermos quantificar o que o labor filosófico significa. Quando critico DM é exactamente neste ponto: em querer demarcar os limites da filosofia e reduzi-la a uma única visão. A filosofia analítica é ela própria instrumentalizada e reduzida quando alguns dos seus paladinos a defendem deste modo.
PS: Quando chamei a atenção para o post do Galamba e nomeei o Funes para aplaudir comigo, fi-lo porque sabia ser a última coisa que Funes faria. ;)
Bom blog este,parabens.
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