Como a maioria dos portugueses, dava muito pouco pelas próximas eleições para o Parlamento Europeu. Sim, é certo que todos os partidos, os politólogos, os comentadores, os fazedores de opiniões (e os comentadores destes todos), apontavam este primeiro sufrágio como o início da grande maratona que se constituirá 2009 como ano eleitoral.
Como não sou um completo atrasado mental, naturalmente que reconhecia a algumas consequências para as legislativas nacionais (as autárquicas têm outras especificidades que não entram nesta lógica elíptica). Parecia-me, contudo, haver algum exagero na importância que era atribuída a estas eleições. A vergonha que foi o PS e o PSD terem impossibilitado os portugueses de se terem pronunciado sobre o Tratado de Lisboa também não contribuía nada para a participação ou interesse. O acordo tácito, estabelecido entre os socialistas europeus e o PPE para manter Durão Barroso à frente da Comissão Europeia, constituía-se como outro motivo para indiciar uma campanha insonsa. Os próprios cabeças de lista não denunciavam grande agitação.
Foi, portanto, com imensa surpresa que assisti ao quentinho debate no Prós e Contras. E fez-me mudar de opinião acerca do interesse destas eleições. Afinal, parece que até poderão ser interessantes. E fiquei com a sensação que afinal aquele que era apontado como a grande estrela da campanha (o senhor professor doutor Vital Moreira, douto nas coisas europeias e reconhecido sábio em geral) poderá ser, afinal, o elo mais fraco. Mais fraquíssimo mesmo, diria eu.
Miguel Portas é um tipo inteligente e soube aproveitar as oportunidades, que lhe foram dadas por estar no centro decisório europeu, para pensar a política de um ponto de vista mais global. É, portanto, um bom candidato.
Ilda Figueiredo, que de resto é uma senhora pela qual não nutro grande apreço, transformou-se numa especialista em questões europeias, conhecendo bem os dossiês, sendo, também, uma boa candidata. Outro factor que abona a seu favor é a sua combatividade, mostrando-se mais forte do que há 4 anos atrás.
Já Nuno Melo é um bom orador, com qualidades retóricas evidentes. Um quadro com futuro na política portuguesa. Tem, também, vindo a trabalhar bem nas questões europeias, especialmente no que toca aos fundos e programas europeus.
Paulo Rangel, que sendo evidentemente uma escolha pessoal de Manuela Ferreira Leite para aplacar a fúria de algum baronato do PSD na guerra das listas é, simultaneamente, uma escolha segura. Homem de princípios, com boa capacidade de trabalho, tem habilidades argumentativas e tem-se imposto com mérito no panorama político social-democrata e nacional.
Sobra, portanto, Vital Moreira. O tal que não é político, que é professor de Coimbra e que era apontado como um intelectual que contribuiria para a profundidade do debate (não digo elevação, porque sobre isso, os seus textos no blogue e no Público falam por si), constitui-se afinal como uma (previsível) desilusão, não sendo capaz de falar bem sobre qualquer assunto, dizendo apenas umas banalidades e a dar-se ares de prima-dona ofendida quando acossado politicamente pelos seus adversários. Nunca demonstrou o tal brilhante intelecto que os seus defensores juram possuir, nunca conseguiu responder frontalmente às questões que lhe foram colocadas, nunca teve argumentos perante as críticas de que foi alvo.
Não tenho dotes de prestidigitação, mas auguro, portanto, uma campanha interessante e não me parece que Vital Moreira venha a sobressair em qualquer momento. Para os opositores deste PS, esta é uma boa notícia e estava capaz de agradecer a Sócrates por esta bela prenda que ofereceu à oposição.
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