2.9.09

O TGV e o interior alentejano

Vejo alguns autarcas do interior alentejano genuinamente preocupados com a possibilidade de não haver TGV. E compreendo o seu drama: presidem a municípios completamente deprimidos, sem qualquer actividade económica e sem perspectivas de futuro. Agarram-se, portanto, ao TGV como uma última oportunidade de desenvolvimento, como outrora se agarraram à classificação de Património da Humanidade com que Évora foi distinguida; ou à Barragem do Alqueva. De cada vez, ouvem-se suspiros esperançosos: agora é que é.
Fazem lembrar mesmo aquelas pessoas que acreditam que a vida melhorará quando alcançarem os desejos que vão vendo sempre adiados. Têm certeza que se os atingirem serão felizes. Aí sim, é que a vida vai verdadeiramente começar. Mas quando isso acontece, nada muda. Continuam a não ser felizes, pois percebem que o problema não se coloca a partir do exterior, mas antes derivam de conjunturas internas, por vezes porque não há alternativas, por vezes devido a idiossincrasias que têm de ser combatidas de dentro.
Salvo as devidas proporções, é isto que se passa com estes autarcas. E terão que se consciencializar que a salvação para os seus municípios não passa por lá passar mais uma auto-estrada, ou uma linha de comboio ou, por absurdo, por ser sobrevoada por aviões.
No caso concreto do TGV ainda é mais evidente: como poderá o comboio de alta velocidade contribuir para o desenvolvimento de Moura, ou Fronteira ou Redondo, ou Mora, ou Alter? Numa palavra: em nada. Mesmo que o comboio pare em Évora - que apesar de ser do meu interesse pessoal, não me parece de todo uma boa aposta (já viram o ridículo que é um TGV parar em todas as estações e apeadeiros?) -, apenas esta cidade irá beneficiar, tal como apenas Évora beneficiou com a A6 (e o litoral alentejano, que é a praia da população de Badajoz - ainda que não necessitasse dessa benesse - e, ainda, os espanhóis da raia, que assim "ganharam" um acesso fantástico à costa - que ficava a centenas de km.).
Portanto, apesar de perceber e ser solidário com a tragédia desses autarcas, o TGV não traz mais-valia nenhuma para o Alentejo. Com o eventual prejuízo de ainda tirar os turistas que entram por Elvas.

NOTA: a vermelho encontram-se alterações feitas ao texto original.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olhe que é a A6, a Autoestrada que liga a A2/A12/A13 a Badajoz via Évora.
A A5 é a Autoestrada de Cascais.

Sancho Gomes disse...

tem razão, sim senhor. Quer me parecer que conhecerá bem as duas, ou será mera impressão minha?