13.3.05

O referendo

Convocar o referendo sobre a Europa para o mesmo dia das eleições autárquicas é uma espécie de batota legalizada que vai reunir, pelos vistos, a anuência do principal jogador político do tabuleiro português: Jorge Sampaio, inimigo confesso de maiorias absolutas que não sejam cor-de-rosa.
Com esta proposta o primeiro-ministro resolve dois problemas de uma assentada: primeiro, o problema da participação (seguramente acima dos 50%) e segundo, o problema da data (na realidade, os portugueses andam um pouco fartos de assembleias de votos e seus derivados e nada como despachar tudo muito rapidamente de preferência num 2-em-1). Mas pelo meio arranja outros dois: primeiro, mantém os portugueses na ignorância relativamente à questão europeia omitindo confortavelmente a questão (porque os autarcas vão querer é ganhar votos e não explicar “a Europa”) e, segundo, faz com que muitos portugueses, sem saberem muito bem sobre o quê, sejam "obrigados", a emitir uma opinião que é decisiva para o nosso futuro sem estarem na posse de informação suficiente. No fundo, no fundo, ninguém parece estar muito preocupado com o assunto nem assume responsabilidade sobre o mesmo já que a Europa é, há muito, tabu instituído. O mais importante é que votem mais de 50% dos portugueses no sim. Tudo o resto é mero acessório de cosmética. E não interessa a ninguém