""Desde há três décadas que a Alemanha é vítima de uma implosão demográfica de características suicidas", escreveu em Die Welt o historiador Michael Stürmer, antigo conselheiro de Helmut Kohl. Cita o francês Yves-Marie Laulan, autor de Allemagne, chronique d"une mort annoncée (2004), que profetiza: "Este país está em vias de morrer, como economia, como nação, como povo. Mas não o sabe. Nem os vizinhos. Porque o mal é invisível. É um desmoronamento demográfico velho de trinta anos, que corrói a economia, as capacidades de defesa, as forças vivas e a sua vontade de viver."
O problema é europeu, mas particularmente agudo na Alemanha, Itália, Grécia e Europa de Leste, que já registam saldos demográficos negativos. Se a globalização é o mais aparente factor de crise, a demografia é a grande ameaça do Continente."
"A Alemanha soube adaptar-se à globalização. Reemergiu no ano passado como primeiro exportador do mundo. Graças às deslocalizações. Mas produz mil desempregados por dia. A taxa de desemprego atinge 12 por cento da população activa. A política de reformas precoces ou o "despedimento temporário" aos 50 anos criou milhões de inactivos. Hoje, afirma William Drozdiak, do Council on Foreign Relations, apenas estão a trabalhar 26 milhões de alemães, suportando um país com uma população de 82 milhões. É insustentável."
"À escala da UE, o número de pessoas em idade laboral por pensionista desceria de 3,5 em 2000 para 1,8 em 2050. Por si só, a mudança demográfica impõe a reforma do estado-providência, tal como políticas de natalidade e de integração dos imigrantes.
O problema não é apenas europeu. Também o Japão registou em 2004 um saldo demográfico negativo. Os Estados Unidos são quem melhor resiste, através de uma imigração selectiva: 11 por cento dos cidadãos americanos nasceram no estrangeiro."
Excertos do artigo de Jorge de Almeida Fernandes, no Público (apenas para assinantes) de 25 de Setembro de 2005