"Confusões do candidato
Mário Soares fez evidentes confusões nalgumas respostas dadas, ontem, no salão nobre do Hotel Ritz, na conferência de imprensa que se seguiu à apresentação do manifesto. Uma delas, e porventura aquela em que maior desconhecimento o candidato revelou sobre a actualidade, surgiu a propósito da questão relativa ao referendo à despenalização do aborto - actualmente dependente de uma iminente decisão do Tribunal Constitucional.
Soares afirmou que "a questão está neste momento a ser discutida na Assembleia da República" - o que não acontece - e que "não se sabe se o Presidente da República manda ou não manda [o diploma] para o Tribunal Constitucional" - quando, de facto, Jorge Sampaio enviou há mais de quinze dias o diploma para o TC, cujo acórdão está para muito breve.
Numa outra situação, ficou por perceber se afinal Mário Soares tem ou não o cartão de militante do PS. O candidato a Presidente da República começou por dizer que tinha entregue o seu cartão de militante ao presidente do PS, na altura em que este partido era dirigido por António Macedo [há cerca de 20 anos] e que mais tarde, quando regressou à vida civil e António Guterres, numa cerimónia pública, lho quis entregar de novo, não o aceitara.
"Eu não aceitei. Não vale a pena, disse", recordou Soares, para logo a seguir afirmar: "Não voltei à militância, mas conservo o cartão que me deram, que é agora o de militante número um [por falecimento de António Macedo]. E se vier a ser eleito, como espero, nessa altura devolverei o cartão."
Também o tempo que permaneceu à frente do Partido Socialista ficou por esclarecer. Se numa primeira intervenção Soares disse ter sido secretário-geral do PS durante onze anos, mais adiante esse período estendeu-se a 13 anos.
Alguma dificuldade de concentração ficou patente, quando uma jornalista colocou ao candidato duas questões diversas. A primeira foi se iria suspender a militância no PS e a segunda por que razão pensava que os portugueses iriam desta vez pôr todos os ovos no mesmo cesto, retomando aliás uma expressão que em tempos foi usada pelo próprio Soares. Por três vezes, o candidato pediu: "Pode repetir a pergunta?"
Por lapso, o candidato confundiu as funções de Nuno Severiano Teixeira, chamando-lhe mandatário, quando o ex-ministro da Administração Interna é, na realidade, seu porta-voz de campanha. O seu mandatário é Vasco Vieira de Almeida, que estava sentado um pouco atrás." in Público, 26-10-2005 (sem ligação disponível)