17.10.05

Vai uns bifes de cebolada?

De repente, telejornais, jornais e revistas descobrem que quatro milhões de portugueses são gordos. Pecado capital. Drama nacional. Espanto geral. Ó.... coitados (longo bocejo).

Detrás da moita de catarse em riste, no Dia Mundial que se assinalava, saltaram logo especialistas em nutrição, alimentação, digestão e outras coisas terminadas em ão. “Faz mal”, “é perigoso”, “há o colesterol”, “os ataques cardíacos”, “os diabetes” e outras maleitas terríveis. E os portugueses “comem muito”, e “comem mal”. “Fritos”, “hamburgueres” e outros males nutritivos como enlatados. Tudo isto sem contar com a ausência de frutas, legumes e outros derivados vindos essencialmente da América do Sul e arredores.

Confesso que nada tenho contra os gordos e obesos, tirando alguns pormenores que têm mais a ver com questões estéticas (nada menosprezáveis) de gosto. E entendo que cada um deve comer o que bem lhe apetecer. Esta coisa pós-moderna de dizer sempre o que se deve fazer é uma espécie de ditadura que apenas visa criar estigmatização junto daqueles que fogem, aparentemente, dos padrões normais, qual casta de proscritos a quem se aponta o dedo na rua, no escritório ou no centro comercial. Já é assim com os que fumam, por exemplo, verdadeiro grupelho de bandidos com armas de destruição maciça na boca no dizer de muitos.

Mas nem todos (num sentido geral) querem ser bem alimentadinhos com iogurtes magros, bebidas azuis, sopinhas caseiras e saladas e exercitar diariamente o corpo com professores de ginástica aprumados que o máximo que sabem dizer é “um, dois, três e salta” ou “vai, e força, e vira, e vai acima, e vai abaixo (seguido de uma série de grunhidos)”.

Portugueses, e muito sinceramente, se vos apetece comer, javardar ou enfardar grandes nacos de suculenta carne, por favor comam, javardem e enfardem grandes nacos de suculenta carne. E não liguem a tudo o resto. Lembrem-se: mais vale gordos e felizes do que magros e infelizes. Para consolo, o velho adágio popular serve que nem uma luva: “o que não mata, engorda”. Ao menos isso.