Cavaco conseguiu estar uma hora na televisão sem dizer nada. Ou melhor, dizendo o óbvio. Anunciou que estará "acima dos partidos", ou seja, cumprirá uma obrigação constitucional. Referiu que quer colaborar com o Governo, este ou qualquer outro, ao que parece. Afirmou considerar importante pôr todos os "órgãos de soberania" (os tribunais incluídos, presumo) a "remar para o mesmo lado nas grandes questões nacionais", a saber: competitividade das empresas, competitividade das empresas, competitividade das empresas e competitividade das empresas.
Para provar que é um homem que mobiliza voltou a referir-se aos seus governos, dizendo que mais ninguém teve tanto sucesso em matérias de consertação social. Para mostrar ser conhecedor dos dossiês lembrou ter participado em "29 conselhos europeus". Piscou o "olho à esquerda". Fez "olhinhos ao centro" e, confiante de que tem a direita no bolso, ignorou-a por completo. Presume-se que para se mostrar "homem de vasta cultura geral" citou Churchill, ou melhor, repetiu um dos mais conhecidos lugares-comuns ditos pelo estadista britânico.
Para reforçar que estava interessado nos grandes problemas internacionais anunciou que numa entrevista da qual ninguém se lembra, num canal de televisão do qual ninguém se recorda, criticou a diplomacia americana por não ter conseguido evitar a Guerra no Iraque (posição parecida à de Soares).
Cavaco voltou, enfim, a debitar uma série de frases feitas. E o pior é que basta continuar assim para chegar a Belém, tal a debilidade dos restantes candidatos.