O poema ouvia como estava a ser escrito,
ele via a mão gigantesca
donde parecia emanar,
palavra por palavra,
mal conseguindo acompanhar-se a si própria.
Própria, viu escrito e, como eco,
disse para si: própria, própria, mas já
a mão ia mais adiante, espantada
pelo flagelo do rabiscar,
pela nostalgia da forma.
Dói não estar completo
para quem vem de lugar nenhum.
Sem alento, as palavras jazem na mesa,
a mão desapareceu, volta, desaparece,
o poema não se lembra de nada,
e a cabeça, tão longe por cima dele,
apenas ainda reconhecívelcomo a máscara de caos e origem,
desvia-se das linhas,
diz no seu respirara cadência do pensar
e fecha o poema
com um suspiro.
Cees Nooteboom
De: Zo kon het zijn (1998)