Josip Broz nasceu em 1892, quando o império austro-húngaro mandava no centro da Europa. Em Kumrovec, actual Croácia. Filho de um croata e de uma eslovena. Deixou a escola sem completar a instrução primária.
Foi aprendiz de metalúrgico. Em 1910, associou-se à União dos Metalúrgicos e ao Partido Social Democrata da Croácia e Eslovénia. Lutou entre 1913 e 1914 pelo Império. Mas no primeiro ano da Grande Guerra acabou sendo feito prisioneiro em Petrovaradin. Acusação: propalação de propaganda anti-guerra.
Mesmo assim, em 1915 voltou a ser enviado para a frente de combate, tendo sido ferido, e aprisionado, pelo Exército Russo em Bukovina. Viveu num campo de concentração nos Urais. Fugiu. Foi capturado na Finlândia. Voltou a fugir. Em 1918, alistou-se no Exército Vermelho e pediu autorização para filiar-se no Partido Comunista Soviético. Viveu entre a União Soviética e os Balcãs até 1936, ano em que voltou à Sérvia para reorganizar o Partido Comunista Jugoslavo (no qual militava desde 1920 e do qual era membro do Comite Central desde 1934). Um ano depois, reinava no partido. Sob a alcunha de Tito, que há quem diga provir da admiração que nutria pelo romântico croata Titus Brezovakci, escritor de renome por aqueles lados.
Liderou a resistência sévia à ocupação nazi, à frente dos famosos partizans (creio que muitos dos nossos leitores só se lembrarão do Partizan de Belgrado, mas enfim...) , organizando um verdadeiro governo-sombra (Comité Anti Fascista de Libertação da Jugoslávia). Em 1943, mesmo com parte substâncial do território ainda ocupado por tropas alemães, proclamou a criação do primeiro Governo Democrático da Jugoslávia.
Em 1945, com os apoios de Stalin e dos líderes aliados, os seus partizans massacraram os fascistas croatas do Ustasa e os realistas do Cetnikc. Libertando-se da oposição, cria a Federação Jugoslava nesse mesmo ano.
Tito foi o primeiro líder comunista a libertar-se de Stalin. Em 1948. Hábil diplomata, soube defender-se de eventuais represálias soviéticas através dos bons contactos que foi establecendo com os líderes ocidentais.
Criou uma nova via para o comunismo, baseada no famoso samoupravljanje, repartição de lucros nas empresas e unidades agrícolas estatais com os trabalhadores (uma espécie de socialismo, ou comunismo de mercado).
Em 1961, fundou, com o lider egipcío Gamal Abder Nasser e com o indiano Nehru o Movimento dos Países não Alinhados, que pretendia dar voz aos países do Terceiro Mundo no tempo dos dois blocos.
Fundamentalmente, Tito conseguiu juntar, durante quase cinquenta anos, as peças do puzle que historicamente formam os balcãs - autêntico repositório dos velhos impérios. Fê-lo utilizando a força. E tentando forjar uma identidade histórica e cultural. Fez deslocar populações em massa. Comandou purgas. Só não percebeu que as vitórias que ia conseguindo não paravam o devir histórico. Se calhar, nem o abrandavam.
Tito morreu em 1980, corria o mês de Março. O seu funeral foi um dos mais concorridos de sempre. E ainda hoje, a Kucka cveca (Casa das Flores), o monumento fúnebre em sua honra, em Belgrado, recebe milhares de visitantes por ano.
O número tenderá a aumentar, já que o saudosismo da antiga Jugoslávia, entre os sérvios, cresce à medida em que se degradam as condições de vida.
Eis Tito. O homem que sonhou a Jugoslávia.