Um sargento que não cumpre. Uma menina infeliz (qual Cinderela, ou Floribela, para ser mais moderno). Uma "mãe Aidida". Um pai deliquente. Um juiz. O Estado. Fazedores de opinião. Movimentos de cidadãos. Pedidos idiotas de "habeas corpus". Jornalistas a espreitar atrás de portas. Nem o mais reputado argumentista de uma das telenovelas da TVI seria capaz de lembrar-se de melhor enredo. Só que infelizmente o caso é real. Parece que o circo voltou mesmo à cidade.
A "estória" da "menina em fuga e do sargento preso" revela, mais uma vez, o gosto português pela tragédia (que o meu amigo Magno parece partilhar).
Então vamos aos factos. Mostrando as coisas como elas são. O sargento que foi preso mereceu o castigo. Senão vejamos: foi intimado, por um Tribunal, a entregar a criança. Não só não cumpriu a ordem como "desapareceu" com a mulher e com a filha para parte incerta. E foi julgado por isso mesmo. E condenado. E bem (tratando-se, ainda por cima, de um militar). Pode, caso se sinta injustiçado, recorrer para instâncias superiores.
Não ignoro o contexto em que tudo isto se desenrolou. Não ignoro que, em Portugal, os processos de adopção são uma idiotice pegada, feitos para que as criancinhas cheguem mesmo à idade adulta em instituições decadentes. Não ignoro que a divisão do país em "capelinhas" faz com que ninguém fale com ninguém e que os processos corram separados por várias instâncias até ao juízo final. E não ignoro que, provavelmente, para a menina o ideal seria ficar com o homem do boné.
O problema é que não foi isso que foi julgado em Torres Vedras.
Pode ser que toda esta trama tenha um lado positivo, ou seja, pode ser que abra o debate sobre os processos de adopção em Portugal e sobre a forma imbecil e desumana como o país tem tratado os seus mais desprotegidos cidadãos. De qualquer maneira, não tem sido essa a discussão que andado na praça pública. O que se tem discutido são os promenores sórdidos de um caso particular. E pedidos idiotas de "habeas corpus", feitos por gente que, apesar de professar direito, de direito não entende nada. Porque não entente que as decisões dos tribunais devem ser respeitadas. Porque esse respeito é um dos fundamentos do Estado. E que a lei permite o recurso até à ultima instância. Nestas coisas, é necessário separar a razão do coração.
Magno, já agora, utilizar toda esta novela para falar do aborto não é nada inteligente, de facto...