A RTP lançou um concurso dedicado à eleição dos maiores portugueses de sempre. A iniciativa não passa de um passatempo, mas levantou interessante celeuma nos indígenas com a chegada aos 10 finalistas de dois actores sombrios: Cunhal e Salazar. Não se percebe o drama. Nem o espanto. Em Inglaterra, nos dez finalistas, estiveram o Lennon e a Diana. Nos EUA, a Oprah e o Elvis. Reconheçam que ter nomeações deste calibre, no nosso país, era o mesmo que seleccionar o José Cid, o Quim Barreiros ou a Catarina Furtado. Infelizmente para o nosso imaginário colectivo, nenhum dos ilustres anteriores logrou atingir a final, o que nos deixa com este insosso dilema, sem grande graça e imaginação, e a discutir a personalidade de dois dos principais candidatos à vitória.
Enquanto portugueses, um traço essencial da nossa pérfida personalidade tem a ver com essa atracção fatal pela autoridade e pelo respeitinho. Se por um lado, admiramos e amamos o ditador de pacotilha que nos regeu, por um outro, idolatramos e respeitamos essa espécie de cópia de Estaline que quis transformar Portugal na nova Albânia. Um e outro são carne com a mesma origem: inimigos declarados da democracia, mas heróis velados do glorioso, e ainda estranhamente vivo, povo português. Nada de transcendental, portanto. E nada que a nossa triste história não demonstre e comente em abundância.
A corrida ao primeiro lugar, entretanto, começou, mesmo que os fãs dum e doutro – Salazar e Cunhal – se alimentem do ódio ao seu contrário. Já imaginaram melhor publicidade para o nosso país?