10.4.07

Babbitt

Babbitt”, de Sinclar Lewis, retrata na perfeição a classe média americana dos anos 20 (década em que foi escrito). Mas é, paradoxalmente, intemporal. Porque a América tradicional não se transformou assim tanto. E porque os valores comportamentais de George F. Babbitt estão ainda incorporados no “modus vivendi” do “stadard american citizen”.

George F. Babbitt é um ignorante, e relativamente bem sucedido, empresário de uma cidade média. Acredita, com toda a força da ignorância, no “progresso”, na “técnica”, na grandeza e superioridade do “sistema americano”. Aprendeu "o suficiente" na Universidade Estatal, o que lhe permite fazer eco das opiniões do seu grupo económico e social. Que basicamente se resumem à premência de silenciar radicais, acabar com a imigração e "manter os negros nos seus lugares”. É uma figura insípida e convencional, rodeada de outras figuras insípidas e convencionais.

Brincando com o leitor, Lewis conduz a personagem central a uma aparente viragem. Babbitt rebela-se. Encontra uma amante. Viola a Lei Seca .Vai a festas. Recusa alistar-se numa associação de patriotas. Defende publicamente “Seneca Doane” e o seu grupo de radicais. Diz-se, ultrage, um Liberal. Babbit chega ao ponto da “quase transformação”. Mas retrocede. E após o período de “fuga” retoma a rotina habitual na estandardizada “Zenith” – arquétipo das cidades médias americanas.

Ler a obra de Siclar Lewis continua a ser surpreendente. Porque George F. Babbitt não morreu a meados dos anos 30 ou 40. Mudou ligeiramente mas na essência está igual. Tal como o sistema de valores que representa.

Foi Babbitt quem incorporou o progresso. É Babbitt quem enche as igrejas evangélicas. Foi ele quem invadiu o Vietnam. Foi ele quem elegeu Nixon e deu duas vitórias a Bush. É ele quem veste camisas coloridas nas praias do Hawai e quem desconhece, às vezes, que o mundo vai muito para oriente do Maine e muito para sul do Texas. Mas é também ele, com o espírito empreendedor que lhe foi transmitido quase que geneticamente, que fez da América a superpotência que hoje é.

O “good old George” pode causar-nos angústia. Mas está vivo e venceu. Se calhar, para bem de nós todos. Se calhar…

Um livro a ler urgentemente.

Post-Sriptum 1: Adoro a frase inicial. Aqui vai:

His name was George F. Babbitt. He was 46 years old now, in April 1920, and he made nothing in particular, neither butter nor shoes nor poetry, but he was nimble in the calling of selling houses for more than people could afford to pay”.

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