8.6.07

Porque outros dizem melhor do que eu

Sócrates recusou falar sobre a Ota na AR. Sensato. Por tudo quanto o País já soube pelas televisões, rádios, jornais e revistas a Ota é um desastre a evitar a todo o custo. Um remendo. Há muitas semanas que deixou de ser uma questão política para regressar ao patamar de onde saiu prematuramente. A discussão técnica, séria e exaustiva, de todas as alternativas possíveis. Como, finalmente, já se está a fazer fora da área de influência do PS e das suas vorazes clientelas. Os portugueses sabem já o suficiente para não haver a menor dúvida de que a insistência na opção Ota, sem atender à prudência aconselhada pela grande maioria dos técnicos, seria de uma estranha e imperdoável leviandade. E as decisões governamentais podem ser censuráveis, mas, em caso nenhum, levianas. Sócrates parece indiferente ao interesse nacional que se não compadece com remendos. Sob o pretexto de que é urgente encontrar uma alternativa à Portela. Mesmo que ela seja péssima. A questão é que na opção Ota há vários timings a embotar o discernimento dos seus defensores. O tempo da saturação da Portela. O tempo dos autarcas do Oeste e restantes lóbis. E, sobretudo, o timing dos interesses pessoais (leia-se eleitorais) de Sócrates e do PS. Que são muito específicos. Contam-se em relação à proximidade das legislativas que se avizinham. Mas mesmo esse tempo perdeu-se. Porque a Ota, feita contra os pareceres técnicos já existentes, ou suspensa tardiamente, será sempre a certidão de óbito de Sócrates. Porque dificilmente irá justificar o seu estranho comportamento. Sócrates nesta estranha luta transformou-se num novo, e ainda mais patético, D. Quixote com o seu fiel Sancho Pança sempre à ilharga. Contraria técnicos. Mistifica o interesse nacional e ameaça lesá-lo gravemente. Esbraceja e ataca para o lado para que está virado. Finge não ouvir o PR, que julga exorcizar fingindo a sua inexistência e anulando magicamente a sua capacidade de intervenção. Mas, afinal, desafiando-o infantilmente. Sofre de um lamentável autismo que está a tornar-se crónico. Nada existe para além do seu pequeno mundo. Sócrates ainda não entendeu que face às muitas reticências de carácter técnico aquilo que um governo de gente minimamente sensata teria feito há muito tempo era anunciar um período para a apresentação de alternativas que seriam devidamente apreciadas e comparadas com a opção Ota. Mas não. Sócrates sente a admissão de novos estudos como uma derrota pessoal e do seu Governo. E isso, para um ‘grande chefe’ como ele se sente, é uma ideia insuportável. Continuamos a sofrer os efeitos da doença infantil do nosso sistema partidário em que o deleite dos meninos é medir as respectivas pilinhas.
Sócrates está, nitidamente, perturbado. Chamou a sua ministra e reconduziu no cargo a sua devota serva, directora da DREN, saneadora do prof. Charrua. Finalmente, baixou a guarda e tomou uma posição clara sobre os crimes de opinião (ou pseudo-insultos) de que se dizia opositor. Ficámos a saber que aplaude e recompensa generosamente todos os lambe-botas que lhe saíam ao caminho e fechará os olhos a todas as purgas políticas que eles levem a cabo. Exemplar.

João Marques dos Santos, in Correio da Manhã, 8 de Junho

Lentamente, Portugal começa a despertar da modorra onde andava mergulhado. O estado de graça do PM está a acabar. Parece-me que o bacharel Sócrates não conseguirá enganar muita gente, por muito mais tempo. Para bem de todos nós!

5 comentários:

Anónimo disse...

Quando se tratou de propagar o boato de que a OTA foi escolhida por os terrenos pertencerem à família Soares muito se falou. Agora que o João Soares se manifestou contra a feitura de qualquer aeroporto (não sei bem se mal)ficam todos calados!

Anónimo disse...

Não ficam não. Ficam agora a falar do outro boato: aquele que diz que os terrenos são do BES / Grupo Macau, de onde saíram (como quem diz...) metade dos ministros socialistas.

Este 2º boato tem mais piada: publicaram as escrituras dos terrenos onde constam os nomes dos donos, o BES e afins, e até temos ex-funcionários do BES a dizer em plena assembleia que o aeroporto é uma questão pessoal.

Não sei quanto ao António, mas eu cá acho que este 2º boato tem pernas para andar.

Anónimo disse...

http://pensarmadeira.blogspot.com

Os boatos têem sempre pernas para andar desde que tenham ar de serem credíveis, correspondam às crenças do público alvo e a vítima dos mesmas não tenha possibilidade ou capacidade de os refutar.

Se os publicaram agradecia que me desse as indicações para eu lá chegar.

Quais são os deputados da oposição que são ex-funcionários do BES?

Quando afirmam que é uma questão pessoal penso que objectivamente estarão a pensar na "teimosia" do governo. Teimosia na perspectiva deles!

Anónimo disse...

Oh homem, não lê jornais? Diário Económico!??

Quanto ao resto, não se faça de desentendido: quem afirmou na assembleia que a OTA era uma «questão pessoal» foi um ministro socialista.

Anónimo disse...

http://pensamadeira.blogspot.com

Sim, conheço essa táctica do diz que diz!

Diário Económico de que dia?

Que ministro é que disse isso?

Não leve a mal mas eu gosto de ir directo às fontes. Não gosto de intermediários. Aliás, qualquer meio de comunicação social também não é própriamente uma fonte. Uns seguem uma linha editorial pró-governo outros pró-oposição pelo que não se pode acreditar cegamente no que publicam.

Para mim a questão não é tanto de quem são os terrenos mas da necessidade ou não de um novo aeroporto. Correndo o risco de parecer lunático quero deixar aqui a "profecia" de que se o ser humano não encontrar rapidamente energias alternativas ao petróleo o indice de viagens aéreas baixará rapidamente. Corremos a passos largos para um 1929 não económico/financeiro mas energético. A questão do aquecimento global é real mas foi o meio que as nossas élites mundiais encontraram para transmitirem a ideia de que é necessário consumir menos energia. Não os preocupa a poluição mas a possibilidade de os povos perceberem que existe neste momento uma guerra entre as élites para garantirem o monopólio/açambarcamento do petróleo e gás natural. A questão não é tanto que valor vai antingir o barril de petróleo nos próximos anos mas durante quantos anos mais teremos petróleo.