Andei a vasculhar discos antigos, daqueles que já não ouvia há anos. Tirei alguns, quase ao acaso, e meti-os no carro. Redescobri coisas como esta. De Caetano Veloso:
Janelas Abertas Nº2
Sim, eu poderia abrir as portas que dão pra dentro
Percorrer correndo, corredores em silêncio
Perder as paredes aparentes do edifício
Penetrar no labirinto
Um labirinto de labirintos dentro do apartamento
Sim, eu poderia procurar por dentro a casa
Cruzar uma por uma as sete portas, as sete moradas
Na sala receber o beijo frio em minha boca
Beijo de uma deusa morta
Deus morto, fêmea língua gelada, língua gelada como nada
Sim, eu poderia em cada quarto rever a mobília
Em cada um matar um membro da família
Até que a plenitude e a morte coincidissem um dia
O que aconteceria de qualquer jeito
Mas eu prefiro abrir as janelas
Pra que entrem todos os insectos
Caetano Veloso
Como em mil novecentos e antigamente (conheço alguém que usava esta expressão e adoptei-a sem rodeios) não havia you tube e coisas semelhantes, não encontrei na net sinal desta canção interpretada por Chico Buarque em dueto com Caetano num espectáculo gravado há mais de 30 anos. De qualquer maneira, deixo-vos um presente. Aqui.
Creio que ainda encontrarão por aí à venda o genial "Juntos e ao Vivo", registo da tal gravação, passado depois para CD, que contém coisas como Tropicália, Você não entende Nada e Quotidiano. Para além, obviamente, da canção referida acima. Às vezes, vale a pena revisitar a arca.