10.7.07

Um almoço

Há dias almocei com um amigo que não via há muito tempo. A conversa, sempre interessante, descamba para o ritmo frenético das sociedades onde o stress, a má alimentação e os vícios instituídos aparentemente provocam anomalias graves ao seu funcionamento. O meu amigo defende a intervenção do Estado no assunto, um pouco à semelhança das novas teorias que por aí estacionaram. Confesso-lhe o meu drama e o meu horror: em nome do Estado muita utopia foi perseguida e muita gente queimada. O argumento não o demove. Por momentos, calculo que o meu amigo também seja dos fanáticos que só comem moderadamente, que não bebem, que não fumam e, desconfio eu, que também não copulam, não vá o coração ceder.

De cada vez que oiço alguém falar sobre exercício, colesterol e doenças com nomes estranhos, o Castelo dos Hambúrgueres assume-se como maravilhosa desforra e agradável premonição. No fundo, adoro pensar em dieta enquanto mastigo e enfardo suculentos nacos de carne a pensar na refeição seguinte. O meu amigo ouve-me e, claro, contesta, barafusta, esperneia, grita. Remato dizendo-lhe que o Estado já está a cuidar de nós e que não vale a pena a conversa gerar um ataque cardíaco súbito. Dou-lhe um simples exemplo: o Lucky Luke, que anda a cavalo (um meio de locomoção amigo do ambiente, se exceptuarmos as bostas lançadas, embora sejam sem chumbo 95), ficou sem o cigarro para herdar um pedaço de inestética palha. Tudo em nome da promoção dos estilos de vida saudáveis tão do agrado dos governos.

Claro que um dia, temo eu, esta situação poderá ser mudada. Afinal, nunca se sabe se não vão descobrir que mastigar palha pode provocar trezentos e dezasseis cancros de variada ordem. Ou que andar a cavalo pode provocar a perda de virgindade nas meninas. Mas isso serão outras histórias. Ou outros argumentos se preferirem.