11.7.07

Tempo para ser feliz

"E, sentado num rochedo, palpando-lhe a crosta enrugada com os dedos, via o mar subir silenciosamente, à luz do luar. Pensava no rosto de Lucienne, que tantas vezes acariciara, e no calor dos seus lábios. Sobre as águas, o luar, como um óleo espalhado, desenhava longos sorrisos errantes. A água devia estar tépida como a boca de uma mulher, macia e disposta a abrir-se sob os lábios de um homem. Mersault sentia como a alegria é irmã da dor, absorto por completo naquela silenciosa exaltação em que se tecem e entretecem as esperanças e os desesperos da vida de um homem. Consciente, e no entanto estrangeiro, devorado pela paixão, e desinteressado ao mesmo tempo, Mersault via que a sua própria vida e o seu destino tinham ali o seu termo e que todo o seu esforço, dali em diante, seria para se habituar àquela felicidade e enfrentar aquela verdade terrível."

Albert Camus, in A Morte Feliz

1 comentário:

Anónimo disse...

apetece-me reler ; ))
obrigada, era um livro que andava esquecido.