Há muito tempo que me incomoda o servilismo com que os jornalistas brindam os empresários e agentes económicos do país.
Lembram-se de ver, há uns anos a subserviência, dos ditos jornalistas, relativamente a Jardim Gonçalves, Oliveira e Costa, ou João Rendeiro, que eram apresentados quase como vedetas? "Self-made men, empreendedores, competentes, profissionais", era a ideia que nos vendiam. Por isso, justificavam-se os milhões com que estes senhores eram agraciados nas suas empresas Mais, lembro-me mesmo que alguns opinion-makers referiam que era fundamental atrair esta gente para a causa pública, apontando a necessidade de alterar a lei, de forma a permitir pagar os chorudos ordenados que auferiam no sector privado.
Ora, pensava eu que a crise serviria para, pelo menos, mostrar que estas sumidades da gestão, afinal poderiam não passar de sumiços. Triste engano: Fátima Campos Ferreira, José Gomes Ferreira e outros quejandos continuam a querer impingir-nos estes gestores do sector privado, apontando-os como salvação messiânica para Portugal. E é vê-los babarem-se para cima dos gestores, que na sua magnanimidade, alvitram as soluções para o país. A culpa do desastre que provocaram nas empresas que lideravam, como é bom de ver, é da crise (que parece não ter qualquer responsável).
Mas, agora, não são apenas os bancários: o jornalismo (?) económico, num acto inconfundível de democratização, alargou o seu leque e qualquer empresário medianamente bem sucedido é um potencial ministro das Finanças e Economia, apontado como o supra-sumo da gestão, com soluções milagrosas. E os senhores, claro está, não se fazem rogados a uns minutinhos de publicidade gratuita e é vê-los pulular de programa em programa, indicando soluções, sugerindo medidas, aconselhando políticas.
Por outro lado, também não consigo evitar um riso sarcástico quando vejo estes mesmos jornalistas opinarem sobre orçamentos e finanças públicas.
Ah, que a oposição tem de ser responsável (para com quem?); que são necessários sacrifícios, que os sindicatos têm de ficar calados; que os funcionários públicos, esses malandros, já foram muito beneficiados e o pobre português não pode continuar a sustentar esses velhacos; que as comparticipações sociais têm de diminuir, que os impostos têm de aumentar. Ou seja, teremos todos de comer e calar, na opinião desta gente. Confiar num governo que não elegemos e que não é digno da nossa confiança é que é, na opinião, destes anormais, a receita para o sucesso.
E nisto, estão com os seus ídolos, os tais gestores, que também apontam como soluções para a crise: a diminuição dos ordenados, a flexibilização dos horários de trabalho, a diminuição dos encargos sociais, a privatização dos serviços públicos. Em compensação, pedem menos impostos para as empresas, maiores apoios para os seus investimentos, comparticipação do Estado nas suas dívidas. Como corolário, exigem que os maiores partidos se acertem para garantir este bloco de(os seus) interesses.
Ora, são estas as elites que temos: políticos sabujos; uma classe jornalística acrítica, bajuladora e incapaz de assumir o seu papel escrutinador da vida pública seja ela política ou económica; um tecido empresarial arrivista e ganancioso.
E se uns (políticos) não são bons, a verdade é que os outros (poder económico e jornalismo) não são melhores. E uma vez que é isto que temos, começo a pensar que é isto que merecemos. No fim, estaremos todos bem uns para os outros.
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