16.9.05

Sobre os debates

Primeiro ponto.

Quem conhece minimamente a Ciência Política sabe que numa disputa eleitoral quem leva confortável vantagem não desce nunca ao mesmo patamar de adversários políticos desesperados por dar a volta ao texto. É contraproducente e um monumental erro político, dizer ou fazer o contrário.

Quando as coisas se revelam equilibradas, o que não é o caso, aí sim, o debate pode de facto ajudar a esclarecer porque os contundentes não encaram estes momentos televisivos ou radiofónicos como uma revanche ou uma vendetta onde tudo se joga e tudo se perde.

Como o principal candidato não compareceu, o grande derrotado foi na realidade quem mais tinha a perder: precisamente Carlos Pereira que nunca deveria ter aceitado o debate sem o seu principal antagonista. Assim, rebaixou-se e ficou ao nível dos partidos mais pequenos.

Exemplo recente, nem é preciso ir muito longe, é o de José Sócrates que recusou debates individuais com os outros candidatos aquando da corrida para primeiro-ministro. Contudo, dir-me-ão que ele aceitou participar nos debates colectivos. Verdade absoluta, sim senhor. E irrefutável. Mas aceitou-os apenas por uma única e simples razão: porque quem estava a ser julgado era o governo PSD/CDS, o que garantia à esquerda marxista e à esquerda folclórica, durante os debates, espaço para os ataques abertos à coligação do Dr. Santana e do Dr. Portas, enquanto o dito engenheiro iludia o povo com promessas que sabia de antemão não ir cumprir. O jogo sujo ficou por isso nas mãos de outros. E com os resultados por todos conhecidos. Quem mais desejava desesperadamente o debate? O Dr. Santana, que foi, recorde-se, esmagado politicamente nas urnas.

Segundo ponto.

Quem assistiu ao debate de ontem na RTP-Madeira percebeu outra coisa muito simples: o Funchal estaria perdido se algum daqueles senhores ou senhora alguma vez chegasse sequer perto de uma Câmara, qualquer que ela fosse. A confusão ideológica, de propostas, de incongruências, de trapalhadas e de benesses sem sentido foi tanta que pouco ou nada se esclareceu quer de projectos quer de medidas políticas de fundo para a cidade. O que é mau para quem tinha tantas expectativas sobre o assunto.

Terceiro e último ponto.

Um conselho, gratuito, para ver se aprendem alguma coisa: de tanto falarem em quem não estava lá, na rádio e na televisão, criou-se a sensação de que isso parecia um enorme incómodo e um intransponível empecilho para todos. De facto, fizeram de Miguel Albuquerque o centro das atenções. Aprendam que na política, não se valoriza o adversário. Estando ou não estando. É sinal de fraqueza. E sinal de incapacidade. Como é óbvio, o Dr. Albuquerque agradece o facto de se terem lembrado tantas vezes dele. Por mais que digam o contrário, e que tentem passar uma imagem diferente, ganhou quem não apareceu.