Mais que uma hipotética vitória do Sim sobre o Não, o resultado do referendo mostra bem o quanto os portugueses se estão marimbando para os mecanismos de participação democrática. De facto, o aborto, ao contrário do que muitos radicais por aí apregoaram, diz respeito a muito pouca gente ou afecta um número muito reduzido de portugueses, razão mais que suficiente para o assunto não merecer mais que cinco minutos de atenção. Tudo isto é também sinónimo imutável do nosso atraso, agora que aparentemente entramos na civilização defendida pelo Eng. Sócrates e o Dr. Louçã.
Infelizmente, para uns e outros, a coisa veio liminarmente mostrar que muitas vezes os políticos estão a mais no processo, que as pessoas estão fartas desta intromissão e deste visível descaramento que apenas procura um protagonismo fácil e mediático que renda votos. Quem viu o Dr. Louçã a cantar vitória percebe bem o desprezo que ele gera e o mal que ele faz à nossa jovem democracia. A mesma democracia que ele abomina, combatendo-a inapelavelmente, mas que o admite no seu seio, recebendo-o de braços abertos. Como, e muito bem, escreveu alguém um destes dias, curiosamente a democracia está cheia de pequeninos candidatos a ditadores. Disfarçados de cordeirinhos e de democratas, acrescento eu. Mandassem eles cinco minutos nas nossa vidas e o mundo nada teria de cinzento.