16.2.07

Vulgarização do aborto já começou!


Parece que a Esquerda portuguesa, a começar pelo PS, não quer consultas de aconselhamento para as mulheres que pretendam abortar. A vulgarização do aborto, que ninguém queria reconhecer, já começou. Para quê aconselhar, se o aborto é pura e simplesmente um acto médico?, questiona esta Esquerda lúcida, esclarecida e moderna. Por isso é que os movimentos defensores do Sim não queriam discutir a regulamentação da lei. Porque nunca reconheceram qualquer dignidade à vida humana intra-uterina, mas sabiam que não o poderiam assumir. Para eles, o feto mais não passa de um conjunto amorfo de células sem qualquer importância. É um apêndice no corpo da mulher, podendo esta dispor dele como muito bem lhe aprouver. Se quiser tirá-lo, pois bem, esteja à vontade. É um direito que lhe assiste.

Espero é que depois disto, a hipocrisia (curiosa, esta inversão do adjectivo) acabe e que odetes, chiquinhos, jominhos, zezinhos, coelhinhos e outros que tais não se atrevam a afirmar que são contra o aborto. Porque não pode ser contra o aborto quem não acha importante aconselhar e mesmo dissuadir a realização desta aberração. Porque não pode ser contra o aborto quem não considera importante que seja demonstrada à mulher fragilizada que existem alternativas ao aborto. Que por muito que a gravidez esteja a ser vista como um problema insolúvel, poderão haver soluções menos definitivas e violentas para a mulher e para a vida que carrega dentro de si. Não pode ser contra o aborto quem não acha importante a presença de um psicólogo e mesmo de um assistente social numa consulta de aconselhamento.
A argumentação desta gente miserável é a de que o objecto do referendo estaria a ser subvertido e acenam logo com um alegado condicionalismo ao poder de decisão da mulher, esquecendo que nenhum aconselhamento é vinculativo. No final, haja ou não tentativa de dissuasão, a decisão última será sempre da mulher. Portanto, deixem-se lá de retóricas idiotas e assumam que nesta questão, apenas é equacionada a liberdade da mulher. Que não existe mais nenhum elemento que deva ser ponderado. Que o aborto é uma coisa normal e vulgar e que deve ser entendido como tal.
O que sinto hoje é uma revolta do tamanho do mundo! Portanto, não me venham pedir que seja racional, perante esta total e absurda irracionalidade. Definitivamente vivemos numa cultura decadente!

Musical Hair.

2 comentários:

Anónimo disse...

Uma vez perguntaram ao Giacometti - e de certeza que não me refiro ao Giacometti que andou por este país a recolher os cantares da populaça - quais as eram as preocupações que suscitavam a sua obra e a resposta foi apenas esta: a minha única preocupação é a colocação da cabeça no espaço.
A esta preocupação e afirmação do artista acrescentaria que o que falta a muita gente é deveras a colocação da cabeça no espaço intra-uterino e já agora que nesse espaço intra-uterino haja muito espaço para colocar psicólogos, sociológos, clínicos gerais, assistentes sociais e tudo o mais que deve aconselhar a mulher, sim que de certeza absoluta fazem falta a uma ponderada decisão...
(De um amigo embora totalmente discordante da tua lenga-lenga de sempre e ainda este ano falei contigo e passei perto de Évora mas o anonimato - "semi", neste caso justifica-se).
Um abraço

Sancho Gomes disse...

No teu caso, entendo perfeitamente o anonimato.
Quando passares por cá de novo, avisa com mais antecedência.
Áh, e de lenga-lenga, para lenga-lenga, a tua até nem está má. Mas no essencial não respondeste a coisa nenhuma! Mas ilustraste o que eu quis dizer perfeitamente.
1 abraço amigo.