21.10.07

Prazer de nada fazer, ou a revolta do prisioneiro!

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa... Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma. Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não! Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca. O mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

4 comentários:

Woman Once a Bird disse...

De férias?

Rui Caetano disse...

É tão bom fazer seja lá o que for na vida, apenas quando nos dá vontade e prazer.

Sancho Gomes disse...

WOAB,
não, ainda não!
Apenas falta de vontade de postar...

Rui,
pois é. Infelizmente, nem sempre é possível.

Blueminerva disse...

Fernando Pessoa é o expoente máximo da literatura portuguesa.
Absolutamente fantástico!
Uma abraço