23.9.08

Moral a gosto (revisto)

A minha amiga WOAB, socorrendo-se de Agacinsky, aproveitou para clarificar os conceitos de Igualdade/Desigualdade e Diferença/Identidade (onde ficará a alteridade?), apontando o erro presente na formulação da minha questão.
Assim sendo e porque assumo que a definição de Agacinsky está correcta, adapto o meu post ao seu rigor.

Vemos movimentos gays que se batem pela diferença, mas simultaneamente exigem a identidade. Então como é: querem que se respeite a vossa diferença, ou querem ser aceites como idênticos (aos heterossexuais)?

Mas, desta vez, acrescento mais qualquer coisinha: alguns movimentos não se batem pela igualdade de direitos. Algumas das suas exigências visam apenas abalar e achincalhar instituições com as quais não concordam. Abalar valores instituídos, como forma de atentar contra a tradição, como se toda ela fosse prejudicial aos "direitos" que se querem ver garantidos. E a mim perturba-me ver instituições com o dever de responsabilidade (como partidos políticos) seguirem estas tentativas acriticamente, apenas porque parece progressista e opostas aos valores tradicionais (que é preciso combater a toda a força, defendem eles), mas que em nada contribuem para a igualdade de direitos.

Por outro lado, podemos legislar para a paridade de direitos (entre homens e mulheres, entre heterossexuais e homossexuais, entre humanos e animais, etc.), mas existem limitações que advêm da condição que não são superáveis. Já havia dado o exemplo da maternidade: pode ser-me reconhecido o direito a ser mãe, mas essa é uma impossibilidade biológica.

Outro exemplo: num casamento com filhos existe um pai e uma mãe. Numa relação homossexual com educandos [sem entrar pela questão da adopção, pensemos apenas no filho de um(a) deles(a)]: qual será o pai e qual será a mãe? É fundamental que haja um "pai" e uma "mãe"? É, sequer, possível ou mesmo digno fazer esta distinção entre pessoas do mesmo sexo?

São estas algumas das questões que alguns movimentos não querem ver discutidas, porque não são facilmente superáveis, posição a que alguns partidos têm dado cobertura. E isto preocupa-me.

Por último, reafirmo o que já tenho dito por diversas vezes: não gosto de morais prontas-a-consumir e descartáveis. A sociedade evolui, os conceitos evoluem, as civilizações evoluem: não quer, contudo, dizer, que tudo o que é tradicional esteja errado.
Até porque não acredito que todas as evoluções sejam positivas. Veja-se o exemplo do Islão que há 600 anos permitiu o nascimento no seu seio do Livro das Mil e Uma Noites e hoje tem como o seu principal cartão de visita a intolerância; ou o Cristianismo que passou de perseguido há dois mil anos, para perseguidor há quinhentos.

4 comentários:

Woman Once a Bird disse...

Sancho, a Alteridade - a assunção de que o outro me antecede - acaba por ser o momento inaugural, muitas das vezes escamoteado, deste tipo de questões, não achas?

Woman Once a Bird disse...

Mais um bocadinho e afirmas, como a outra, que a razão de ser de um casamento reside apenas na procriação...

Anónimo disse...

Casais heterossexuais que não têm filhos: casaram-se e são uma família!

Anónimo disse...

O tópico de numa família ter um pai e uma mãe é uma convenção! Puramente convencional! Temos tantas crianças que crescem sem pais nem mães, outras só com mães e outras só com pais.
Na natureza temos exemplos de famílias apenas constituídas por fêmeas...
O casamento varia de sociedade para sociedade, logo os valores também divergem. É injusto estarmos a falar apenas da questão biológica, pois sabemos que não é só isso, existem outros factores e não menos importantes.
Enfim, isto tudo para dizer que o casamento existe apenas para responder às necessidades dos diferentes indivíduos que, com as suas variantes, compõem a sociedade e contribuem, de igual modo, para a sua organização e sustentabilidade. um homossexual vota, paga impostos, cumpre os mesmos deveres/obrigações, recebe a mesma educação e os mesmos valores e não tem os mesmos direitos! Isso mete-me muita confusão!