25.8.05

Mãe

Volto hoje ao local onde estive, ontem, antes de ontem, segunda e domingo.
Tem sido assim os meus últimos dias. Ao final de cada tarde, vou visitar alguém muito especial. Alguém que nunca lhe disse o quanto é, foi, e será importante para mim.

A vida tem destas coisas. Vivemos ao lado delas. Partilhamos o mesmo ar que respiramos, banhámo-nos no mesmo Sol, tomamos banhos de chuva quando o Inverno apertava e, os anos passaram. Quase que, silenciosamente, uns atrás dos outros.

Vi-a envelhecer, ela viu-me crescer. Foi sempre assim desde que me lembro que a Lua ilumina as minhas e as noites dela. Preocupamo-nos com os nossos afazeres. Eu com os meus, ela com os seus. A maioria das vezes foi ela quem deu os primeiros passos. Segui-a. Fi-lo diversas vezes. Tantas quantas foi necessário para poder caminhar só.

Autónomo, foram poucos os momentos que olhei para trás. Percorri as nuvens que conseguia observar do meu quintal. Hospedei-me na Lua. Ainda tentei reservar estadia no Sol, mas acabei por desistir.
Após esta primeira euforia fiz a minha primeira viagem a sério. Meti-me num barco e deixei o meu paraíso escondido para trás. Já em alto mar, fiquei semanas sem lhe dar notícias. Descobri novas ilhas, só que desta vez rodeadas de terra. Autênticos refúgios de poetas, boémios, contadores de histórias, viajantes sem destino, malabarista. Foram tantas as personagens, que lhes perdi a conta.


Voltei a viajar de novo. Desta vez para fazer uma viagem de regresso ao passado. Para reencontrar-me com ela. Foi um reencontro alegre, mas depressa imiscui-me nas minhas tarefas. Entretanto, os anos continuaram a cavalgar.

Finalmente tudo parou. Agora sei que o tempo será sempre pouco para ti.


Angelino Mata Câmara

4 comentários:

Anónimo disse...

muito bom, meu caro

Gonçalo

Anónimo disse...

Espero que ela fique bem e que possas partilhar com ela estas palavras. Ela merece ouví-las!!!
Beijo

Tânia

Anónimo disse...

Mais do que bonito, noto o sentimento bem vincado nas palavras sinceras que escreveste. Não hesites em dizer o que sentes seja para o bem ou para o mal. Um dia, disseram-me: «olha para os outros como se fosse o último dia da tua vida». Por vezes esqueço-me, mas reconheço que se aplicasse esta velha, mas verdadeira máxima, a vida seria muito melhor.
Um abraço
SSFranco

Anónimo disse...

Gostei e ela há-de gostar!

Um abraço