Há uma imagem que não me sai da cabeça.
Fixei-a dia 19 de Fevereiro na festa dos compadres.
Estava eu a ver o cortejo etnográfico, quando os meus olhos foram assaltados por um desnorteante quadro. Um filho com perto de 30 anos, não largava a mão da mãe.
Se por algum motivo aquela mão materna fazia um gesto mais brusco, os dedos do jovem adulto atiravam-se de corpo e alma contra aquela protectora mão. Era uma espécie de cordão umbilical que o matinha ligado à progenitora. Mesmo assim, foi por várias vezes ameaçada aquela natural ligação. Existiam pessoas a quererem passar de um lado para o outro. Procuravam o ponto ideal para ver o cortejo.
Ele tinha o olhar disperso. A mãe via com um sorriso nos olhos as palhaçadas dos figurantes.
A partir daquele momento o Carnaval perdeu para mim toda a piada. Passei a focar o meu olhar naquelas duas personagens apesar da multidão que os rodeava.
De imediato notei algo de diferente no rosto e nos gestos do jovem rapaz.
Eu estava do lado oposto do enigmático quadro: - mãe e filho. Imaginei as dificuldades daquela mãe, os traumas daquele jovem adulto. As roupas eram humildes, mas nem por isso deixam de brilhar. Caíam-lhes bem. Eram as pessoas mais bonitas que ali estavam. Os meus olhos ficaram encharcados. O mesmo que agora sinto, ao recordar este quadro vivo.
Pensei que poderia ajudá-los. Tirei do bolso 5 euros para lhes dar. Achei pouco. Fui buscar mais. 10 euros. Assim que terminou o cortejo dirigi-me a eles. Não tive coragem de lhes dar nada. Apercebi-me que estavam acompanhados com outras pessoas. Pensei que poderiam não gostar. Dei mais uns passos. Hesitei. Voltei para trás. Nunca mais os vi. Nunca mais os esqueci.
PS - era para tê-lo escrito há muito tempo. Fi-lo agora.
2 comentários:
Caro Angelino, as tuas preocupações sociais chocam claramente com o pendor de extrema-direita deste blogue. Para te inserires no espírito da "casa", tens que mudar de temas. Aqui ficam as minhas sugestões para futuros textos teus: como reprimir manifestações; como conservar o poder; o cheiro a mofo dos sindicatos; evidenciar obras de artistas/autores conotados com a Direita, porque é preciso provar que a Esquerda não é dona da cultura; evidenciar os atentados dos palestinianos.
Caro Angel,
Ainda bem que tivestes o bom senso de não oferecer os 10 euros. Se fosse eu ficava indignada. Sabes o ser humilde não é automaticamente sinónimo de extrema pobreza, mas sim de dignidade. E o que descreves é exactamente isso. Uma imagem digna que, de certeza teria sido manchada com a tua atitude no minímo idiota!
Beijo,
Marisa Frade.
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