21.5.07

Pecados da Direita


Não é de agora. Desde há algum tempo que não me revejo nos discursos dos políticos de Direita (para que conste, também não me revejo nos da Esquerda, mas isso não é novo). A Direita portuguesa parece que esqueceu que também defende valores que vão muito além do discurso económico. É certo que, tal como na Esquerda, existem direitas para todos os gostos. Mas a verdade é que desde há uns anos estas apenas falam economicês, onde abundam vocábulos como eficácia, eficiência, produtividade. A Direita já não tem discurso político, tem apenas discurso económico. O próprio liberalismo, que na sua génese foi uma corrente política de vanguarda no combate ao despotismo, hoje mais não é do que a Guarda Pretoriana do capitalismo.

Sintomático é o desdém com que esta Direita executiva olha para questões de civilização, as denominadas questões fracturantes.

É legítima a desconfiança dos motivos que levam este PS a sacar de tais questões. É óbvio que não passam de fait-divers do bacharel Sócrates (desculpem, mas o tipo não é engenheiro e também não reconheço qualquer validade àquela licenciatura manhosa), em momentos de alguma aflição, bem como para contento dos (poucos) socialistas que ainda existem no PS.

Todavia, apesar de reconhecer estas manobras de diversão, a Direita não se pode alhear, suicidariamente, de questões de civilização, como é a questão do Divórcio.

Por isso saúdo o aparecimento de correntes dentro do CDS-PP, como foi o caso da ala liberal, liderada por Pires de Lima.

Não concordo com a posição por eles defendida, mas não posso deixar de reconhecer a importância que foi dada ao tema e que centralizou o discurso político desta ala no último congresso dos populares. É importante que a Direita mostre que também defende valores. Neste caso foi uma corrente liberal, gostaria que a corrente democrata-cristã (será que ainda existe em Portugal?) também assumisse a sua posição de forma clara e sem sub-refúgios. Tem que deixar de ser sacrilégio afirmarmo-nos conservadores (infelizmente, o conservadorismo em Portugal é envergonhado, refém da leitura provinciana que Salazar fez desta práxis política).

Mas tudo isto a propósito da proposta de lei apresentada pelo BE na Assembleia da República, agora repescada pela direcção do PS.

Reconheço que tenho opinião fácil e por vezes insuficientemente fundamentada. Mas, nesta questão não tenho dúvidas: permitir a anulação do casamento a pedido de um dos cônjuges é aprofundar o individualism já reinamente na nossa sociedade. Será a vitória final do Homem Light de Enrique Rojas. A pretexto da defesa da liberdade individual, são os políticos e indicarem a via do imediato, como o caminho a percorrer. E este caminho eu recurso a trilhar.

PS - Não sou casado por opção. E tal como eu, qualquer nubente tem o direito de escolher, porque o casamento não é uma fatalidade.
Capa do livro O Homem Light, de Enrique Rojas

2 comentários:

Anónimo disse...

só não cheguei a perceber se o divórcio é ou não é uma fatalidade...

Sancho Gomes disse...

A questão é essa não é Nefertiti?! É que o divórcio não é uma fatalidade.