1.6.07

A Cidade

Naquela que parece ser uma clara jogada de antecipação do Grupo Liberal - há muito tempo que se discutia a hipótese de viabilizar o Jornal da Madeira transformando-o em diário gratuito e aumentando a sua tiragem e circulação – foi ontem apresentado, no Funchal, o matutino “A Cidade”, com edição diária de segunda a sexta-feira.

Um projecto desta natureza só pode ser viabilizado sobre três eixos fundamentais e interligados: rigor jornalístico; agressividade comercial; bom sistema de distribuição

O rigor jornalístico é fundamental para qualquer órgão de comunicação que se preze. Mas num projecto de distribuição gratuita, absoluta novidade entre nós, é imprescindível não só ser rigoroso na abordagem das questões, mas também demonstrar esse rigor com força redobrada, já que os leitores tendem sempre a desconfiar daquilo que, utilizando uma figura popular, lhes “é dado”.

A imagem de “jornal sério” terá também de ser dada, claramente, aos potenciais anunciantes. Que numa primeira análise tenderão a desconfiar do projecto. Não pelo grupo que o sustenta ou pelas pessoas que o incorporam, mas sim por ser novo no panorama mediático regional. Agressividade comercial parece-me ser palavra-chave para o sucesso.

O terceiro eixo é tão importante como o primeiro que aqui referi: o sistema de distribuição terá de ser cuidadosamente pensado. Há que fazer chegar “A Cidade” aos leitores encontrando caminhos alternativos em relação aos canais tradicionais (tabacarias, quiosques, assinaturas, etc). Mas não chega. Porque esse trajecto do jornal até o leitor não pode desvalorizar o produto, um dos mais sérios riscos do projecto em questão. Há que incutir no público a ideia de que, apesar de gratuito, o jornal acrescenta qualquer coisa ao dia-a-dia. Voltamos ao rigor jornalístico. Mas não só. Porque uma apresentação cuidada (graficamente falando) de “A Cidade” e uma definição/identificação clara dos pontos de distribuição são também importantes.

Em resumo, sou daqueles que acreditam que o novo jornal pode chegar a bom porto. O grupo Liberal tem alguns anos de experiência acumulada nas áreas da comunicação social (Tribuna, Saber Madeira, Saber Açores, Fiesta) e da edição. Os seus títulos têm sobrevivido à queda do investimento no mercado publicitário e à crise generalizada, que também afasta leitores. É um bom indício. A redacção é dinâmica e, ao que tudo indica, será chefiada por um profissional jovem mas com trabalho feito – Juan Andrade. Mas é importante que sobreviva aos primeiros sobressaltos. Se isso acontecer, lá para o fim do ano ver-se-á que mudanças trouxe.

Aqui ficam os mais sinceros desejos de boa sorte.