A notícia do dia de ontem veio dessa por vezes inenarrável União Europeia. De acordo com o comissário Markos Kyprianou, a UE ameaça proibir anúncios à fast-food se as grandes cadeias não deixarem de fazer das nossas inocentes criancinhas os alvos apetitosos da sua enfadonha publicidade.
O motivo prende-se com essa ideia peregrina de que as fast food são as únicas culpadas pela obesidade infantil, ilibando do julgamento, entre outras coisas, o excesso de tecnologia e televisão e a própria falta de pachorra para a educação dos filhos por parte dos pais.
Desculpem a sinceridade, mas o repertório para além de repetitivo começa a ser monótono.
Já aqui disse que sempre gostei de ver o Estado a tratar os seus cidadãos como perfeitos atrasados mentais. É o novo espírito dos tempos, o zeitgeist, numa época decidida a fazer da espécie humana um exemplo de pujança e elegância físicas associadas a uma grande e dramática longevidade. Viver até aos cem anos não é apenas irrazoável: é paranóia e obsessão. Mas num tempo onde uma palmada no rabo de um petiz pode ser razão para um processo numa comissão de menores, convém não abusar da sorte nem tentar ser engraçado.
Na realidade, a proibição aos anúncios é apenas mais um pequenino passo rumo ao politicamente correcto e à higienização dos costumes. Falta pouco para proibir as batatas fritas, os refrigerantes com gás, a carne vermelha, os chocolates, as bolachas, os enlatados e qualquer coisa que leve corantes e conservantes ou seus derivados.
Tudo isto é infelizmente mais um exemplo triste de como o ridículo chegou para ficar. Pena que neste cenário sejam as crianças a pagar pela frustração dos adultos: afinal foram eles que nunca perceberam que é preciso educá-las hoje para não ter de castigá-los amanhã.