10.7.06

O fim do campeonato

A táctica está a matar o futebol. A táctica e o excesso de jogos a que os principais clubes europeus, e consequentemente as suas principais vedetas, estão sujeitos em épocas desportivas longas e cada vez menos interessantes.

O espectáculo deteriora-se a olhos vistos. Fraca qualidade, poucos golos, muitas faltas, demasiadas interrupções, arbitragens pouco profissionais. Nem a bola esquisita entretanto estreada ajudou a mudar as coisas mesmo que, desconfio eu, tenha sido a principal obreira pelo facto de este campeonato não ter a pior média de golos de sempre. Eis o poço onde caímos: inventar bolas que furem os esquemas e os nervos dos guarda-redes.

Pela primeira vez também se contam com uma só mão os grandes jogos de futebol a que foi possível assistir (e é preciso um grande esforço de memória). Toda a gente entrou a medo e nem as constelações de estrelas brasileiras e argentinas foram capazes de mais do que um simples fogacho. Muito pouco para quem tem tanta matéria-prima. Por isso, a FIFA e seus acólitos têm fortes razões para estar preocupados. Nunca se viu tanta falta de imaginação o que nos diz claramente que urge mudar alguma coisa neste mundo do futebol. Não sei se o tamanho das balizas, o sistema disciplinar, os limites do campo, as datas dos seus principais eventos, o número de selecções presentes ou o processo de escolha dos árbitros do evento. Mas algo é preciso de facto mudar. Para bem do futebol e do seu espectáculo.

Num tempo em que se idolatra, por exemplo, José Mourinho ou Scolari, vencedores natos e altamente eficazes mas pouco preocupados com a qualidade estética do futebol, foi possível ainda ver o pragmatismo em que se transformaram as principais selecções: o mais importante era o resultado independentemente dos longos bocejos provocados na bancada siderada pela quase ausência de oportunidades de golo. Claro que houve um ou outro momento melhor, mas demasiados, como contraponto, a roçar a boçalidade e a vulgaridade. E isto, na verdade, deve ser motivo de forte preocupação. O romantismo foi banido de vez do futebol.

A situação é assim complicada. O campeonato arranca cheio de força, mas o mês é longo e cria uma certa debandada. No fim, já toda a gente anda farta e reza para que tudo termine rapidamente. Ontem, por exemplo, foi notório que nenhuma equipa estava interessada em superiorizar-se cabalmente à sua adversária. Por isso, os pénaltis desde o início que me pareceram o desfecho mais lógico. No fim, tiveram mais sorte os italianos, que acabam por ser vencedores justos do torneio e porque os seus princípios foram de uma clareza atroz: concentraram-se na equipa e não nos seus verdadeiros talentos, Totti e Del Piero. Ainda assim, Totti, por exemplo, ao longo do torneio fez três assistências e marcou um golo decisivo. Mas na Itália, que joga pelo conjunto e foi uma verdadeira equipa, até isto parece passar despercebido. E basta por fim dizer que 10 jogadores italianos fizeram o gosto ao pé. Ou à cabeça.