Uma das imagens que mantenho viva na minha cabeça, é uma célebre reprimenda de Guardiola a Figo, companheiros de equipa no Barcelona, por este último, julgo eu, estar a simular uma lesão, obrigando a equipa médica do Barcelona a entrar em campo. Na altura, não me lembro se o Barcelona ganhava ou perdia mas era mais do que evidente que Figo não estava assim tão combalido que merecesse ou que justificasse mais uma interrupção no jogo. Mas Guardiola, o capitão da altura, é que não esteve pelos ajustes. Graças ao seu enorme profissionalismo e respeito que tinha por quem lhe pagava o ordenado (os sócios do Barcelona, que ali estavam para ver futebol espectáculo e não simulações ou teatro grosseiro) repreendeu o jogador português, chamando-o à atenção e responsabilizando-o pelos seus actos. Nunca mais, nesse jogo, vi Figo a ser assistido ou a cair no chão que não se levantasse imediatamente.
É um pouco isto que alguns jogadores portugueses têm de aprender: a imagem negativa de fiteiros que imortalizaram neste mundial, colar-se-á como um rótulo para a vida, acompanhando-os para todo o sempre, independentemente do clube que representem. No futebol global, onde a televisão esmiuça os lances ao mais ínfimo pormenor, os que simulam acabam por ficar sempre mal na fotografia e herdam, consequentemente e num futuro próximo, as sementes que plantaram. É por isso tempo de parar de pensar que o futebol, apesar de muitas vezes ser uma arte representativa, se compadece com estes excessos. É que uma coisa é forjar um pénalti como Chalana fez frente à Rússia (pénalti este que nos levou ao Europeu de 84) e outra, bem diferente, é passar o tempo à procura de enganar o árbitro em mergulhos mais ou menos decorativos. Nestas coisas, convém lembrar a história, que aqui serve de parábola, de Pedro e o Lobo de Profofiev. É que um dia, o lobo veio mesmo. E aí já ninguém acreditou no Pedro.