22.9.06

Compromissos II

No telejornal da RTP de ontem, o colóquio, como jocosamente lhe chamou o ministro Silva Pereira, Compromisso Portugal, teve honras de elevado destaque. Como não podia deixar de ser, o Dr. Carrapatoso foi aos estúdios explicar as ideias profundas produzidas no Convento do Beato destacando-as como evidentes mais-valias para o nosso futuro. Ninguém explicou se ele (o futuro) seria mais ou menos negro, mas penso que isso será pormenor de somenos importância, uma vez que as ideias do bando são para discutir e não para praticar. O Dr. Carrapatoso candidamente identificou os problemas do costume como qualquer estudante do 12º ano: há problemas na justiça, na educação, no Estado, na qualificação dos portugueses, nas leis laborais, enfim, a ladainha de sempre que faz do nosso país um país adiado e com crescimento estagnado. Nada de novo aqui, portanto. Antes do Dr. Carrapatoso despejar a sua teoria económica, já o telejornal havia dado profundo destaque às palavras do Dr. Alexandre Relvas (um tipo género António Borges e que já foi carinhosamente baptizado de Mourinho pelo Dr. Cavaco em plena campanha eleitoral), um dos responsáveis pelo colóquio (como jocosamente lhe chamou o ministro Silva Pereira, convém não esquecer) e figura pelos vistos muito conceituada no meio empresarial. No meio dos lugares comuns da sua intervenção (género discurso do Eng. Sócrates na ONU), eis que o telejornal decide destacar uma das emblemáticas frases do discurso do Dr. Relvas: “Nenhuma empresa sobreviveria se fosse gerida como é gerido o Estado português”. A frase não é original, mas demonstra bem a vacuidade de certa gente e as razões pelas quais não são, nem podem ser, levadas a sério. O Dr. Relvas não percebe a diferença entre as funções do Estado e as funções das empresas. Confunde ambas e limita-as a uma simples questão de gestão. O Dr. Relvas não devia ser assim tão básico. Mas paciência. Azar o dele. Alguém que lhe explique as diferenças. Se houver paciência.

PS: também foram perguntar ao Dr. Mendes o que é que ele achava do colóquio (como jocosamente lhe chamou o ministro Silva Pereira, convém sempre relembrar). O Dr. Mendes, obviamente, louvou a iniciativa apelidando-a de “positiva”, realçando, contudo, que não concordava com muitos dos seus pontos de vista. Claro está, que o Dr. Mendes é contra o despedimento dos 200 mil funcionários do Estado. Como convinha confirmar. Não vá o diabo tecê-las.