26.11.07

E que tal uma chibatazinha, não?!

Numa entrevista publicada hoje no Público, Paulo Nunes de Almeida, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal e putativo representante do patronato - sendo apontado como sucessor dos actuais presidentes da CIP e da AEP -, apresenta uma série de medidas que, no seu entender, têm que ser tomadas a bem da economia portuguesa.
Ora, para quem não quiser ler toda a entrevista, aqui ficam as ideias principais:
1. travar os aumentos do salário mínimo ou, em alternativa, que o Estado dê compensações financeiras às empresas;
2. reduzir o número de feriados;
3. a já recorrente facilitação dos despedimentos, avançando com a ideia peregrina de impôr tectos máximos às indemnizações a pagar;
4. em compensação, propõe criar um fundo, no Vale do Cávado (?), para a reconversão dos trabalhadores despedidos;
5. acabar com os 13º e 14º meses;
6. acabar com os pagamentos das horas extra, substituindo esse pagamento por compensações em alturas de menos trabalho;
7. baixar a carga fiscal das empresas.

Para este dirigente patronal, o único caminho para a salvação da economia portuguesa é acabar com todos os direitos dos trabalhadores e aumentar todos os benefícios das empresas. Não propõe baixar os salários dos gestores portugueses, que estão bem acima da média e que inflacionam (e como!) o ordenado médio nacional; não propõe um maior esforço de modernização das empresas; não propõe a implementação de sistemas de qualidade que permitam limitar custos com gastos desnecessários; não propõe que os gestores portugueses comecem a aprender efectivamente a gerir ( e tudo isto numa altura em que alguns sectores apresentam lucros fabulosos). Não, todas as suas propostas têm como fim último entalar ainda mais o Zé Povinho.
E depois, ainda apresenta aquela ideia estapafúrdia de criar um fundo de reconversão dos trabalhadores despedidos (com a lei que gostaria de ver criada) na Vale do Cávado. Caro senhor, e então os trabalhadores despedidos de Trás-os-Montes, do Minho, da Beira Interior, do Alentejo, do Algarve e das ilhas? O que se faria com esses? Comida para os peixinhos, com certeza?

Isto começa a atingir limites completamente inconcebíveis. Se é bem verdade que o movimento sindical precisa de ser revolucionado rapidamente, não é menos verdade que o patronato português precisa de entender que a mama do Estado não é só para eles. Que o Estado não existe para servi-los! Que esta história de Robin dos Bosques ao contrário, a continuar, vai levar a uma cada vez maior insatisfação social, com efeitos possivelmente explosivos.
Eu estou cada vez mais convencido que a baixa produtividade portuguesa não é culpa dos trabalhadores, mas dos patrões. Se são representados por senhores com ideias tão imbecis como estas, não podemos esperar que a sua gestão seja grande coisa.

E ao nível internacional, começa a ser tempo de aprendermos (mas aqui, a culpa é manifestamente dos políticos) que o valor deve servir e não ser servido. Que a merda do mercado não é um qualquer deus e que deve estar ao serviço das pessoas e não o contrário.

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