10.12.07

Real politik vs ética

Robert Mugabe é um ditador, responsável por um desgoverno absoluto que está a arruinar o Zimbabwe. Não tem qualquer respeito pelos direitos mais elementares do homem. Dos homens. Dos negros como ele e que jurou defender. Tem razão Brown para não querer sentar à mesa deste déspota, apesar dos motivos serem errados. Porque não passa do orgulho ferido e porque o império britânico foi prejudicado com a tomada de poder de Mugabe. Não se trata da defesa efectiva dos direitos do homem, por parte do PM inglês (todos sabemos que é uma questão de política interna). Porque o governo britânico não tem pruridos em sentar à mesa de outras ditaduras tão ou mais violentas que a do Zimbabwe, como a Arábia Saudita.

Há algumas semanas, o governo português acolheu com honras de Estado o cacique-aspirante-a-ditador Hugo Chávez. Na altura, reconhecia a pertinência de termos de engolir este sapo: a comunidade portuguesa na Venezuela é demasiado grande e o governo português tem o dever de zelar pelos seus interesses.
Parece, contudo, que o principal motivo do encontro não foi a defesa da comunidade portuguesa, mas garantir negócios chorudos para a Galp. E sinceramente, senti um amargo de boca!

Este fim-de-semana, recebemos com pompa e circunstância Muammar Kadhafi, líder do regime opressivo que governa a Líbia. Aliás, vimos Sócrates de mão dada com o Líder Supremo líbio e todo ele era sorrisos. O motivo para tanta alegria era a garantia de outros negócios chorudos para a Galp e para outras empresas portuguesas. Que são levadas para a Líbia atraídas pelos dinares líbios, sem qualquer tipo de preocupação com essas questões humanistas.
Uma vez mais, todo um povo vergou-se aos interesses económicos de meia dúzia.
A isto chamam de real politik: eu chamaria de hipocrisia. E a mim, custou-me a engolir ver o PM do meu país a fazer acordos com um líder de um governo que não tem qualquer respeito pelos direitos do homem. A fazer acordos económicos. A vender a dignidade de um país aos interesses de alguns!
Não me admiro nada que qualquer dia estejamos à mesa de negociações com terroristas, conforme propunha, num rasgo invulgar de imbecilidade, Mário Soares. Já estivemos mais longe!

1 comentário:

amsf disse...

O ódio ao Mugabe por parte do Reino Unido não tem nada a ver com a independência do Zimbabwe mas com a nacionalização deos latifúndios que pertenciam especialmente a britânicos (desde há 5 anos). E o ódio que muita gente nutre pelo Mugabe é fruta das campnhas feitas pelos ingleses junta da imprensa internacional. Tivesse o sr. Mugabe feito tudo que quisesse mas deixado os ingleses à votande e a maioria das pessoas nem saberia da sua existência. Tivesse o Hugo Chávez pedido uns milhões por baixo da mesa às companhias petrolíferas em vez de exigir contratos mais justos e bem poderia fazer o que quizesse que o seu nome seria desconhecido da opinião pública mundial!
Não tivesse o Kadhafi importunado os americanos nos anos oitenta e ainda 90 e seria igualmente desconhecido! A presidência da UE estabeleceu acordos com África mas não negócios...antes o tivesse feito...O nosso grande líder AJJ não recebeu o igualmente grande líder do Apartheid Sul africano Piether Botha, quando este era regeitado pela comunidade internacional.
Terroristas!?
Viriato foi um terrorista para os romanos; D. Afonso Henriques foi um terrorista para o Reino de Castela; George Washington foi um terrorista para os ingleses; Bolivar para os espanhois; até o Ghandi era um terrorista para os ingleses; o primeiro presidente (?) de Israel foi um terrorista para os ingleses; todos os líderes das lutas de libertação que sucederam-se após a Segunda Guerra-Mundial (África e Ásia) eram terroristas perante as suas metropoles.
Resumindo: é terrorista quem está a perder e especialmente se põe em questão os interesses dos poderosos e fica para a história como terrorista aquele que fracassa.