28.7.07

Jornalismo de vanguarda

Esta notícia é um belíssimo exemplo da legitimidade das queixas do PSD-Madeira, relativamente à comunicação social do continente. E não haveria necessidade, uma vez que os factos, por si só, são penalizadores para Jaime Ramos, não sendo necessário inventar-se uns tantos. Senão vejamos: o que Edgar Silva disse, é que com um regime de incompatibilidades decente, não seria possível a Jaime Ramos continuar simultaneamente com as actividades de deputado e de empresário, com interesses em empreitadas promovidas pelo Governo da Região. Ora, o articulista diz que Edgar terá defendido que o "líder do Grupo Parlamentar do PSD-M nunca ganharia concursos públicos se a lei nacional estivesse em vigor na Madeira", transmitindo a ideia que as empresas de Jaime Ramos apenas ganham concursos devido a cunhas. Ora, este é um não-facto, uma vez que Edgar Silva não pôs em causa a qualidade e/ou capacidade das empresas ganharem concursos, mas tão-só o facto de concorrerem, sendo propriedade de um deputado - o que por si só, é grave e não deveria ser permitido, conforme defende o PCP. O segundo não-facto, tem a ver com a afirmação: "Os comunistas dizem que Jaime Ramos deve demitir-se conforme prometeu fazer caso fosse provado que era gerente ou administrador de alguma empresa que tivesse sido beneficiada de concursos públicos e dos respectivos financiamentos do Orçamento Regional". Estaria tudo muito bem (apesar de mal escrito), não fosse o verbo beneficiar. Ora, nunca Jaime Ramos disse (e digo-o de cor, uma vez que outra coisa não fazia sentido) que as suas empresas terão ou não sido beneficiadas. O que ele prometeu é que demitir-se-ia se se provasse que pertenceria à administração ou conselho de gerência de alguma qualquer empresa que presta serviço ao Governo da Região. O que é radicalmente diferente, uma vez que se trata de incompatibilidades e não de mafiosices, conforme o jornalista quer fazer crer quando fala em beneficiar.
Eventualmente, poderá fazer-se uma investigação sobre a legalidade e transparência dos concursos públicos na Região. Essa é, contudo, uma outra questão, que nunca foi colocada pela PCP - não, pelo menos, naquele debate -, não sendo esse o motivo evocado para a exigência da demissão de Jaime Ramos.
É evidente a intenção subliminar do articulista: reforçar a ideia de que todos os negócios na Madeira são desonestos e que a autonomia madeirense não passa de um refúgio para uma cambada de malfeitores. A sorte, é que o jornalista não é grande espingarda e aquilo que pretendia ser subliminar tornou-se evidente, perdendo totalmente a a sua eficácia.

3 comentários:

Woman Once a Bird disse...

As queixas do Governo Regional no que diz respeito à comunicação social do Continente não serão fundamentadas pelo exemplo. Mau jornalismo faz-se relativamente às mais variadas temáticas. É um bocado descabido extraírmos daí uma suposta teoria da conspiração. É o jornalismo que temos: na maioria das vezes, rasca, por falta de rigor quanto às fontes. Seja sobre PSD Madeira ou sobre a origem dos poemas que compõem a Carmina Burana (como já vi, há algum tempo). Má investigação, pura e simplesmente.

Anónimo disse...

Nunca imaginei que havia uma pessoa com tanto jeito para defender o JR e ao mesmo tempo o ES. Estranhas coincidências...

Sancho Gomes disse...

WOAB:
até pode ser que tenhas razão e que eu esteja a ver conspirações onde elas não existem. Mas repara que a intervenção é cirúrgica.

Anónimo: não defendi ninguém (e ainda que o fizesse...). Limitei-me a fazer observações sobre um texto jornalístico.