22.11.05

Excertos e intervenções II

"A crise financeira do Estado é grave. Ouvimos isto há muitos anos da boca dos mais diversos especialistas, peritos e outros géneros de experts. Todos conhecem as causas e têm os antídotos milagrosos. Há anos que os ouvimos, mas há anos também que estamos exactamente na mesma: a nossa economia não cresce, as despesas não diminuem, as receitas são colectadas pela metade, a terra prometida afasta-se. Temos de enfrentar a concorrência global, sendo um país periférico e tendo um vizinho que diariamente nos engole enquanto assobiamos para o lado, recusando nada ver. A tudo isto é preciso somar as hordas de analfabetos funcionais que anualmente produzimos, a ausência de políticas de incentivo ao risco e ao empreendedorismo, a inexistência de justiça fiscal, a evidente desqualificação e degradação dos sectores produtivos. Não há milagres. Por mais que supliquemos por Fátima, não há milagres. [...] Talvez por isso se fale hoje no esgotamento da social democracia clássica e do socialismo democrático. À esquerda, desde os gloriosos 30 anos, que é visível a sua decadência e o seu problema ideológico que mais não é do que a essência e razão da sua existência. Navegamos todos à deriva. E porquê? Porque a economia não cresce e não crescendo nada tem para dar e ou para distribuir. Porque a economia não cresce e não crescendo não produz emprego, não garante direitos, não garante benefícios; Porque a economia não cresce e não crescendo não garante a sobrevivência e põe em causa o Estado social. [...] Restam duas soluções: ou entrar na dança e caminhar dançando para o abismo – num suicídio que pelo menos poria fim definitivo ao nosso sofrimento; ou de facto mudar para transformar e não para deixar tudo exactamente na mesma, afrontando os interesses instalados."