22.11.05

Excertos e intervenções X

"E por cá, como vamos? Na Madeira grassa uma espécie de conformismo hipócrita em que a oposição se limita a debitar ideias velhas e gastas com o intuito claro de ganhar tempo na comunicação social. Esta fúria imberbe que ganha contornos pitorescos à frente dos microfones e dos gravadores, assume-se como o singular estratagema visível de pessoas que não têm ideias, projectos ou ambições políticas que vão para além do botequim da esquina, da estrada esburacada ou da casa onde chove dentro, sempre com a conivência descarada de quem lhes dá cobertura. Vivemos por isso num absurdo. Num absurdo inenarrável e sem fim à vista. Há partidos que hoje, e aliás como sempre, se comportam como se tivessem 40 ou 50% dos votos e não o um ou os dois deputados do costume. E dão-se ao luxo de falar em nome dum grupo ou mesmo duma representação parlamentar num eufemismo que substitui bem, e comodamente, a piada de mau gosto. Basta ver as reportagens televisivas: sempre os mesmos; louve-se a decência de se alternarem nos microfones e nas cadeiras onde se sentam. Mas que dizer das estratégias políticas individuais que minam as actuais estruturas da oposição e que promovem a perpetuação dos politicamente incapazes, num assomo indiscritível de falta de dignidade na derrota? Sim, porque se enganam todos aqueles que julgam que as eleições afastam ou removem os politicamente incapazes. Nesta terra, a meio do oceano imersa, há partidos políticos que ganham eleições consecutivamente quase há tantos anos como o PSD. A ingenuidade é muito querida e ainda por cima é de graça. Mas houve tempos recentes de singela expectativa. Houve tempos em que um exército de mercenários se propunha conquistar Roma e entregá-la aos bárbaros. Foram tempos de grande fanfarronice e jactância. Foram tempos de apalermada desorientação, também. Para a história ficaram alguns momentos humorísticos e algumas ideias peregrinas de cariz satírico; Mas chegados ao campo de batalha, a fúria e o ódio viscerais eram tão fortes que impediram os mercenários de ter qualquer veleidade. Estavam cansados e desgastados. Sem liderança e já sem força. Mas encheram-se, como sempre, de vitórias morais. Tentou-se inclusive assustar o povo como antigamente se assustavam as criancinhas romanas: inventado medos, espantalhos e outros monstros; “Aníbal está às portas” [...]."