"Reúne sete ou oito sábios e tornar-se-ão outros tantos tolos, pois incapazes de chegar a acordo entre eles, discutem as coisas em vez de as fazerem" - António da Venafro
22.11.05
Excertos e intervenções VIII
"O ridículo não mata em política. E nunca matou por sinal. Se dúvidas houvesse, bastava olhar para o circo montado à esquerda para perceber o arraial onde a festa se desenvolve. Como se avança na política em Portugal, senhores? Como avançam os candidatos presidenciais? O camarada Jerónimo avançou para marcar terreno; o Dr. Francisco Anacleto Louçã avançou porque o camarada Jerónimo avançou para marcar terreno e assim lhe fazer marcação cerrada; o Dr. Mário Nobre Soares avançou porque não queria que o Dr. Cavaco fizesse um passeio pela avenida; e o Dr. Alegre avançou porque pá, se chateou com a malta, pá, em nome da ética republicana, pá. Em comum, todos tinham um ódio escondido e uma motivação secreta: derrotar o putativo Dr. Cavaco que conseguiu a proeza de juntar toda a esquerda, da operária à burguesa radical, da clerical à aristocrata, num mesmo saco e com um mesmo objectivo. A busca incessante pelo protagonismo tem destas cenas irreais, dignas da Twilight Zone. O nosso absurdo já não precisa de ser representado por Sísifo acartando infinitamente o seu fardo montanha acima; basta olhar para os aspirantes da esquerda à presidência da república portuguesa e chorar pelo nosso fado, pelo nosso destino. Ao que chegamos. Nietzsche falou-nos do mito do eterno retorno. Uma ideia nefasta e filosoficamente complicada: imaginem a ideia de que tudo aquilo que viveram se há-de um dia repetir infinitamente, uma vez, duas vezes, três vezes, tal como a Fénix que das cinzas renasce, e às cinzas volta para das mesmas cinzas renascer. Só isto justifica a exumação política do Dr. Soares que, supostamente reformado e cansado, andou por aí a escrever livros, andou pela Europa, dirigiu fundações e ainda teve tempo de marchar contra a guerra. Mas o Dr. Soares não é como alguns vinhos que se refinam com a idade; pelo contrário, azedou, endureceu o discurso e mesmo trocando alguns nomes mostra que o seu problema não é de facto a idade: são as ideias perigosas que no fim de uma etapa decidiu abraçar e que o levaram do centro político ao extremismo personificado no apóstolo da democracia portuguesa, o evangelista Francisco Anacleto Louçã e que fizeram do par o novo par maravilha da política portuguesa."