22.11.05

Excertos e intervenções VII

"Como foi possível ter chegado a isto? Como foi possível ter deixado as coisas chegarem a este ponto? Que esperança podem ter os nossos jovens quando todos os dias a caminhada fica mais longa, penosa e sem fim à vista? Que esperança podem ter os nossos jovens quando para progredir se vêem impelidos a sair do seu próprio país? Que esperança podem ter os nossos jovens quando saem das universidades directos para as esguias filas do desemprego? [...] A terra prometida afasta-se. Nem o “povo escolhido” atravessa o deserto nem Ulisses chega a casa. O que fazemos portanto? Nada como andar entretidos. Andar entretidos com eleições presidenciais que ainda estão a dois meses de distância. Faz-me lembrar o Natal e as decorações dos centros comerciais que chegam ao ridículo de começarem no dia 1 de Novembro. Afinal, o Natal sempre é quando um homem quiser. Vale tudo para encantar a serpente. Vale tudo para contentar o séquito sedento pela divisão dos despojos do saque. Entretidos com as eleições, os portugueses entrarão nesta quadra natalícia com a certeza do dever cumprido. Com dinheiro no bolso, álcool nas veias, carne na mesa e presentes no sapatinho, a época privilegia o adormecimento, o apaziguamento, o torpor desmazelado e o nacional-porreirismo de quem vive em festa permanente."