11.6.07

O dia da raça

Comemorou-se ontem o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Não sei bem o que há para comemorar, mas o dia é repetitivo até dizer chega. Há uns discursos, há umas paradas, há uns recados a seguir às paradas, há uns comentários aos discursos e há umas análises políticas geralmente mais ricas e imaginativas que o cinzento dos discursos em si. E há sempre alguém que não desiste ou não se resigna, o que é quase a mesma coisa.

Este ano, o Prof. Cavaco apostou em voltar à circularidade discursiva: não há ali uma única ideia que um político normal não defenda nem nenhuma ruptura que um político normal não proponha. Mas as entrelinhas do vazio são sempre utilizadas para ver ali uns recados e uns conselhos ao governo, num papel que assenta que nem uma luva ao Chefe de Estado, mas que desafia as mais elementares leis de Lavoisier.

Este ano, o Prof. Cavaco, à semelhança de outros momentos, propõe-se não se resignar perante o baixo crescimento económico ou as elevadas taxas de abandono escolar, coisas, que como todos nós sabemos, nunca ninguém se lembrou de combater.

Não sei em que país o Prof. Cavaco tem vivido, mas com certeza dista umas boas milhas deste Portugal, cuja margem sul, a título de espectáculo de variedades, foi recentemente equiparada por um ministro a um deserto para gargalhada geral da fauna pátria.

Viver neste ambiente é na realidade complexo. Por um lado, toda a gente gosta de ouvir e concordar com os recados, sempre muito propositados e influentes no momento, mas que meia dúzia de dias depois já foram convenientemente esquecidos e embolsados. Por outro lado, toda a gente sabe que ninguém fará absolutamente nada para mudar coisa alguma e que para o ano nova não resignação tomará forma e corpo para substituir a anterior sem ninguém dar pelo assunto nem pela demora.

É por isso que celebrar o Dia de Portugal quando nada há para celebrar não me parece apenas contraproducente: é também ingénuo, despropositado e, temo eu, cada vez mais vazio.