11.6.07

O voo entre a Ota e a Margem sul

Não sei se a intenção do Governo, ao solicitar um parecer ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) é séria - é legítimo pôr em causa a seriedade deste governo, depois de todo o enredo que tem sido o processo do novo aeroporto. Nem sequer tenho opinião formada sobre a sua localização (se bem que dava-me mais jeito que ficasse situado na margem sul). Alcochete, Poceirão, Ota, Terreiro do Paço: dá-me igual ao litro. Podem colocá-lo onde quiserem, até sobre o Palácio de São Bento, se essa for a localização mais indicada.
Saúdo, contudo, a decisão do Governo em solicitar o estudo ao LNEC. Acho que é uma decisão sensata e ponderada, depois de uma gestão tão desajeitada deste processo, como tem sido a de Mário Lino.
Pensar-se-ia: bem, agora é que o processo pode começar a andar de forma transparente. Nã, nã, nã, não!! Não basta.
Existem demasiadas suspeitas sobre o processo, demasiadas incoerências, que fazem abanar o sininho contra aldrabices que temos cá dentro. E levantam-se-nos algumas questões.

1ª Se Alcochete é uma tão boa localização, a ponto do Sr. ministro mandar estudar a possibilidade, mal a CIP a propõe, porque raio é que o Sr. ministro insistia em garantir que não havia alternativa à Ota? Porque é que não foi equacionada esta possibilidade?

2ª Há duas semanas, o sr. ministro afirmava ser um suicídio construir um aeroporto na margem sul: o que é que mudou deste então? Houve uma debandada das terras do norte que não tenhamos dado conta? De repente, surgiram oásis no meio do deserto que justifiquem o investimento? Será que a Lusoponte deixou de ter interesses, conforme afirmava descarado Vital Moreira? Será que já não corremos o risco de atentados terroristas, como muito bem alertava o Sr. Presidente da Assembleia?

3ª Que dignidade confere este sr. ministro à Assembleia da República, uma vez que escolhe um colóquio para fazer tão importante anúncio, em detrimento do local que seria mais adequado, isto é, em plenário? (Se bem que é delicioso: a continuar desta forma, qualquer dia o governo começa a tomar decisões na esplanada.)

4ª Se para além de Alcochete, existem outras alternativas, porque não estudá-las todas? Porquê só estas duas?

Claro que estas são questões, à clientela socialista e à populaça embevecida com o "nobre líder" (não sei porquê, mas lembrei-me agora do "nobre corcel" do Shrek), parecerão de lana caprina. Com certeza aparecerão os defensores de Sócrates e sus muchachos com explicações extremamente elaboradas para explicar o inexplicável (passe a redundância). Mas, apesar da desconfiança com que aguardo o esclarecimento destas e de outras questões, estou sempre aberto ao diálogo. Para que o descrédito não seja total, ainda aguardo ser convencido. Mas já sem grandes expectativas.

PS - Vá lá, pela primeira vez o Presidente da República fez o que já devia ter feito há muito: pôr aqueles srs. do Governo (para tentar ser educado) em sentido! Já ia sendo tempo.

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