3.12.07

Venezuela

A Venezuela deu ontem um enorme exemplo a todo o mundo, e aos vizinhos da América Latina em particular, de comportamento civilizado e democrático.

Mas é importante não esquecer que a sociedade venezuelana está profundamente dividida. E que, embora social e culturalmente o povo da Venezuela seja avesso aos conflitos (basta lembrar que é o único país da zona que nunca se envolveu numa guerra dentro ou fora de portas), uma pequena fagulha pode acender um rastilho com consequências imprevisíveis.

Ontem, o discurso de Chávez foi muito interessante. Ponderado, reconheceu a derrota e a consequente impossibilidade de levar a efeito as reformas que pretendia introduzir. Apelou à unidade nacional e serenou os ânimos quer dos seus apoiantes, quer da oposição. O Chávez que ontem assumiu que tinha perdido foi radicalmente diferente do Chávez habitual, que ataca desenfreadamente todos aqueles que a ele se opõem, quer no plano interno quer no plano externo, criando dessa forma clivagens dispensáveis. A confirmar-se e a manter-se o tom e o conteúdo, as tenções poderão acalmar. Mas não acabam certamente, já que o exercício efectivo do poder não deve sofrer alterações visíveis. Para além do mais, com Chávez deve desconfiar-se sempre...

Não creio que a derrota implique uma viragem política na Venezuela ou nas relações do país com o exterior. Hugo Chávez manterá, internamente, uma praxis política populista, que a curto prazo poderá atenuar superficialmente as desigualdades, mas que médio e longo prazo será um desastre para a Venezuela. Vai continuar a desconfiar do sector privado da Economia, impondo medidas restritivas. Vai insistir no projecto de silenciar a oposição e os média por esta influênciados ou controlados. Não desistirá da ideia peregrina de perpetuar-se no poder.

A nível externo, continuará a perseguir a criação de uma espécie de bloco latino-americano que se afirme por oposição política aos Estados Unidos e à União Europeia (opção condenada ao fracasso devido à óbvia resistência do Brasil ou da Argentina, as maiores economias da zona, em juntar-se àquela espécie de "guerra santa").

Enfim, embora mais controlado, Chávez tentará, até à sua extinção (que agora me parece mais ou menos inevitável), continuar a marcar a agenda política mundial.

6 comentários:

amsf disse...

Para quando um referendo na Madeira sobre a limitação de mandatos do presidente do governo Regional e uma lei de incompatibilidades para os deputados!?
Não consigo perceber como é que se pode ser doentiamente anti-"chavista" e simultâneamente doentiamente pró-"jardinista"! Atenção que esta apreciação não é necessáriamente dirigida ao articulista deste post.
AJJ tem aquilo que o Chavez procurava através deste referendo e não vejo os fazedores de opinião relacionarem uma coisa com a outra!

Anónimo disse...

AMSF,
da mesma forma não percebemos como pode ser anti-"jardinista" e pró-"chavista"... são os dois farinha do mesmo saco.

amsf disse...

Eu não sou nem anti, nem pró qualquer um deles, tal como o "mundo" não é branco e preto mas cinzento!

Sancho Gomes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sancho Gomes disse...

amsf,

mundo cinzento?! Só se for o seu. O meu é muito colorido!

PS - Já tinha reparado que você era um cinzentão!

Cumprimentos,

amsf disse...

Tipo arco-íris?!

Olhe que vão pensar que anda nas afetaminas ou é gay!!!