Lisboa acolhe, este fim-de-semana, uma importante cimeira entre a União Europeia e as nações africanas. A principal razão do acontecimento, descobri há pouco, é afinal validar mais um pacote de ajudas financeiras aos países africanos onde se destaca “um fundo para ajuda ao comércio e apoio à competitividade” – que arranca já em 2008 com 1,2 mil milhões de euros que se tornarão em 2 mil milhões em 2010, data da próxima cimeira – e um fundo especial de 600 milhões destinado à União Africana para “facilitar a paz” e a sua capacidade de intervenção em zonas de conflito.
Pelo meio, e como disfarce, alguns líderes europeus vão pregar sobre direitos humanos, desenvolvimento e crescimento, democracia e aquecimento global. Claro está que os senhores que mandam em África dirão que sim a tudo, que está tudo muito bem e que aceitam todas as críticas e reparos, porque na realidade o que lhes interessa verdadeiramente é o pote de ouro no fim do arco-íris, mesmo que para tal tenham de participar em workshops alternativos com o Sr. Zapatero, o Sr. Sarkozy, o Sr. Prodi ou a D. Merkel e olhar para o ar angélico do Sr. Mugabe enquanto ouve falar sobre os direitos humanos.
Já se sabe o ridículo de tudo isto. Dar dinheiro a rodos nunca resolveu nenhum problema estrutural; antes adiou a inevitabilidade de soluções urgentes que são necessárias para dar aos africanos a dignidade que merecem e uma esperança num verdadeiro futuro. Já aqui uma vez expliquei como é mais fácil passar um cheque. Noutra vez ainda, tentei demonstrar como se sossegam as consciências. Como é óbvio, a receita mantém-se inalterável: em 2010, aprovaremos mais um pacote de fundos para destinos e fins incertos e sem olhar para o que foi feito e receberemos, novamente e de braços abertos, mas talvez um pouco mais gordos, muita gentinha que pouco ou nada fez pelos seus povos. Mas claro que o faremos de consciência tranquila e com mais um cheque chorudo na mão.