9.1.07

Em defesa do Não

Caro Magno, utilizar o "Freekonomics" como obra de referência para justificar um argumento ou para alicerçar um debate revela uma evidente impreparação. Como tal, o teu post não merece, da minha parte, qualquer comentário para além, evidentemente, daquilo que escrevi nas míseras três linhas anteriores.

Assumo-me como defensor do Não no referendo. E por diversas razões (que nada têm a ver, evidentemente, com as enormes lições aprendidas numa qualquer obra "fast-food" de literatura liberal). Uma delas é evidentemente, da ordem do simbólico: Acredito que a vida começa na altura da concepção. E tenho o direito de crer naquilo que me apetece, ou não?

Outras são de ordem sociológica (ou filosófica, se quiserem): Vivemos numa época em que a desresponsabilização é uma regra de ouro. E é esse o princípio que me parece nortear os defensores do "sim". E é esse o princípio em que não acredito. No debate, repetem-se argumentos que tendem a minimizar a responsabilidade individual. E que assim minimizam, também, a liberdade individual, ao contrário daquilo que querem fazer crer os defensores do "sim". Acredito numa liberdade responsável. Na qual cada um dos actores conhece as opções e é livre de seguir o caminho que entender, assumindo depois as vantagens e desvantagens das escolhas que faz.

Quanto às críticas que se ouvem em relação à "moral cristã", perdoe-se a ignorância de quem as faz, mas toda a nossa concepção de vida, toda a nossa organização social, toda a nossa existência enquanto sociedade e enquanto indivíduos alicerça-se nas directrizes morais judaico-cristãs.

Fala-se depois da questão do dinheiro. Pois eu continuo a achar que é importante, ao contrário daquilo que dizem os defensores do "sim", falar de verbas. Principalmente daquelas que serão gastas em abortos e que poderiam ser utilizadas na prevenção, na educação sexual e no apoio às mães e às familias, ou seja, atacando e prevenindo o drama, em vez de tentar solucioná-lo "a correr e aos gritos".

Ouvem-se, depois, argumentos fantásticos. Do género "há mulheres a ser despedidas por ficaram grávidas". E a solução será porventura, abortar para evitar o despedimento (juro que isto está no DN de hoje. E que Carvalho da Silva estava presente na mesa onde isto foi dito). Mais uma vez, procura-se resolver o problema a jusante, esquecendo-nos de procurar a solução a montante.

No que respeita ao "negócio" - e os defensores do "sim" apontam aqueles que pensam de forma contrária como pontas de lança do tenebroso mundo dos abortos clandestinos. Pois bem, a única coisa que vejo é o interesse de clínicas espanholas em abrir em Lisboa e no Porto. Financiando, quem sabe, alguns brupos interessados em mudar a Lei vigente.

Existem mais razões que me levam a votar Não. Deixo-vos duas:

Vocês imaginam a eficácia de uma Lei que não será cumprida, certamente, na maioria do território nacional, simplesmente porque a maioria dos portugueses a entendem como boa para os outros e não para si? Trocando por miúdos, estão a ver uma menina de São Vicente, de Freixo de Espada à Cinta ou de Bragança entrar pelo consultório do médico de familia dentro a pedir para fazer um aborto, correndo o risco de "ficar falada", ou seja, de deitar a perder parte do capital social da familia? Qual a eficácia, então, de tudo isto?

O que farão os defensores do "sim" se ao Tribunal chegar uma mulher acusada de ter feito um aborto, digamos, às 11 semanas? Acham que as mulheres deixarão de ir a Tribunal por causa de abortos clandestinos?

Resumindo: Acredito no primado da vida humana. E acredito numa sociedade responsável, que aposta na prevenção e no apoio quando essa prevenção não é suficiente. Não acredito que a alteração da actual Lei acabe com o aborto clandestino e muito menos contribua para minimizar um dos maiores dramas da sociedade portuguesa: a gravidez juvenil.

Post-Scriptum: Todos aqueles que discordarem de mim são benvindos ao debate. Acredito que a discussão em torno deste tema se deve fazer. Sem histerias. Por isso, este blog tem uma caixa de correio - conspiracaoassete@hotmail.com. Colocaremos, on-line, todos os textos que julgarmos fundamentados, pró e contra a alteração da Lei. Convidamos a escrever. Sem histeria.