9.1.07

A simbologia

A presidência alemã da União Europeia prepara-se para lançar uma cruzada contra a simbologia nazi, com o intuito, julgo eu, de jogar a porcaria visível para debaixo do tapete. A táctica é simples e, por isso, simplista: aquilo que está proibido na lei é como se não existisse ou não pudesse existir. É uma forma de combater os problemas que não me tem como adepto. Geralmente, negar um problema não se constitui como uma verdadeira solução. O mesmo começa a acontecer com os fumadores, escorraçados para longe da vista que é como quem diz, para bem longe do coração.

As práticas de higiene sociais, mentais e visuais são parte frequente da nossa ridícula existência e uma espécie de nova filantropia política que pretende acima de tudo uma procura positivista e racional por um homem novo, socialmente educado e perfeitamente previsível. Os regimes totalitários tiveram os mesmíssimos objectivos e também na altura ninguém deu por nada. Ou fingiu não dar. Nunca percebi a fúria e a enternecedora odisseia, porque se esperanças ainda houvesse na salvação ou na construção deste hipotético homem, ou nesta criação abstracta, bastava olhar para o período natalício para se perceber o quão irracional pode ser o homem e os seus descendentes dentro de um centro comercial.

Proibir a simbologia não vai resolver o problema, porque ela se calhar até se alimenta da sua alardeada e propagandeada clandestinidade. Os adeptos agradecem o gesto. Mas ainda assim várias coisas me preocupam nesta aberrante manipulação: porque é que esta fúria só se aplica à extrema-direita? Porque é que esta proibição não se estende à extrema-esquerda e aos seus símbolos? Até quando vou ter de aturar adolescentes patetas com a efígie de assassinos e terroristas estampados no peito, de Mao Tsé-Tung (ou Mao Zedong, se preferirem) a Che Guevara? E quando é que vão proibir a foice e o martelo, símbolo fracassado e representativo de uma utopia que ceifou a vida a milhões? Haja decoro.

Infelizmente para o mundo, o marxismo continua a ser o principal inimigo da democracia e o atractivo mundo de alguns intelectuais que nunca sofreram na pele as suas agruras. Curioso sistema o nosso que deixa que os seus inimigos permaneçam no seu seio a minar por dentro o que mais nos custou conquistar.