31.12.06

Alzheimer futebolístico

O futebol português está há tanto tempo parado que já nem me lembro que clube vai em primeiro.


PS: Como é mesmo o nome daquele ex-administrador do Benfica que nada tem a ver com aquele processo onde desapareceram 800 mil contos referentes àquele jogador que era do Benfica, do Sporting, do Atlético de Madrid, do Boavista e do Braga desde pequenino?

As aulas bilingues

O Dr. Louçã, um anjo imaculado, prepara-se para apresentar no Parlamento uma proposta que pretende introduzir nas escolas portuguesas o ensino bilingue (não importa a língua) para os filhos dos imigrantes. A coisa vem no Expresso (uma comédia à parte na tragicomédia que é este país) e não deixa de ser perturbadora. O Dr. Louçã, como toda a gente sabe, é conhecido por ser um comediante cáustico com uma propensão natural para explorar o drama alheio enquanto gesticula e fala com ar de pessoa bastante entendida nos assuntos que aborda. O Nuno Rogeiro, por exemplo, também é muito parecido, embora ligeiramente melhor no comentário sobre a máquina de guerra norte-americana e os seus efeitos sobre ditadores indefesos.
Mas o Dr. Louçã não é particularmente sério (já vos tinha dito que é um comediante?) e até entre a sua horda há já alguns que começam a contestar a sua inócua e interminável liderança, há demasiado tempo afundada numa espécie de limbo sabático, ao qual o efeito do excesso de haxixe não deve ser estranho. Eu confesso que prefiro o Carlos Malato às homilias do Dr. Louçã, mas como gostos não se discutem o que importa aqui é a proposta que demonstra bem a originalidade e a simplicidade desta gente. E a proposta é um verdadeiro delírio que, a ser aprovada, promoveria exactamente o contrário do que pretende combater: a dita exclusão dos imigrantes, porque toda a gente sabe que só dominando a língua é possível uma verdadeira integração no país de acolhimento.
Os guetos sociais não se combatem mantendo os excluídos numa redoma que tenha por objectivo recriar as suas especificidades e ambientes naturais, venham eles de onde vierem. Já um velho ditado dizia que em Roma sê romano. Só para a tribo do Dr. Louçã é que isto parece complicado de entender. Mas pode ser que haja esperança. Quem sabe falando uma outra língua?

Cuidado com o ditador

A justiça iraquina matou o seu antigo ditador. Nestas coisas obituárias, e depois de vermos o morto, há sempre um sentimento que nos invade que nos faz expirar aquele inevitável “Coitado” (a minha mãe, por exemplo, ou mesmo algumas das minhas tias, soltaram um coitado demasiado prolongado que me deixou preocupado).
Nós somos assim a lidar com a morte. Ainda este ano, prestamos homenagem sentida ao Camarada Vasco e a Álvaro Cunhal, conhecidos inimigos da democracia mas reconhecidos amigos de regimes responsáveis pela morte de milhões. Sei que milhões, na linguagem estalinista, significa uma simples estatística, o que por certo deve perdoar-lhes a ousadia e a intromissão no assunto. Mas a memória, ou a falta dela, é um problema ocidental grave (pronto, reconheço que a ténue possibilidade de uma tal de Ségolène chegar ao poder na França também me deixa preocupado).
Esquecer o que Saddam verdadeiramente foi, como esquecer o que Álvaro Cunhal representou, não é apenas uma questão de memória selectiva que nós jogamos bem no fundo sempre que um actor comprometido desaparece de cena. E por uma simples razão: a homenagem ao carrasco limpa e desculpabiliza os seus actos, transformando-o em pretensa vítima. E isso, por uma questão linear e óbvia, é uma falta de respeito grosseira pelas verdadeiras vítimas: todos aqueles que às mãos do sanguinário regime morreram por simples arbitrariedade, diferença, mesquinhez ou maldade. É por eles que não devemos trair a sua memória. Nem a nossa.

30.12.06

Poças do Gomes

Já uma vez aqui falei sobre as Poças do Gomes, vulgo Doca do Cavacas. Na altura referi-me à abusiva medida da Câmara Muinicipal do Funchal em cobrar uma taxa de entrada. Mas não falei do essencial: os códigos de honra que por lá se estabeleciam e que foram assumidos por diversas gerações. Valores como a Amizade, a Lealdade, a Honra, eram cultivados entre as sucessivas gerações dos putos locais. Eu tive o privilegio de ter crescido ali e de ter sido herdeiro desta tradição que a qualquer estranho poderá parecer pueril, pretenciosa e megalómana mas que aos Gomes, aos Sousas, aos Pereiras, aos Henriques, aos Martins, aos Ferreiras (e a outros mais) constituem a sua melhor e maior herança, pois esses valores foram decisivos no seu processo de formação. Hoje, habitam a zona entre a Ajuda e a Praia Formosa - passando pelo Amparo e Piornais - milhares de novos residentes. É a nova centralidade do Funchal, dizem os responsáveis autárquicos. Mas sempre que volto, não consigo deixar de me sentir nostálgico quando me deparo com atitudes de novos residentes que contradizem a velha tradição enunciada. Gosto de lá viver e gosto de conhecer os novos vizinhos. Mas sinto que para eles, nada do que falamos tem qualquer significado. E por isso não entendem a lealdade absoluta que une os amigos das Poças. Perda deles!



PS - Um feliz ano novo a todos conspiradores e aos leitores deste blogue.
Sobre a dignidade do Ministro de Economia e a bondade do Primeiro-Ministro para com a Madeira, veja-se o elucidativo texto do Jorge Freitas Sousa no Diário de Notícias da Madeira.

29.12.06

Recuperado. Escrito há muito, muito tempo...

UM CONTO

Bar de Alterne, Funchal. Madrugada de um sábado qualquer. Noite fria.

Entramos em bando, escada acima, depois de nos ser cedida a passagem por um homem com cara de poucos amigos, entre uns risinhos que pretendiam disfarçar a excitação do momento e a adrenalina pura de quem entra num sítio desconhecido. Era ali o fim da noite.
A despedida de solteiro só ficaria completa depois daquela visita especial que é um ritual instituído, que toda a gente conhece mas que ninguém comenta. Sem aquilo nada teria ou faria sentido. Pelo menos na memória, na importância, no cerimonial que de cada vez que alguém se casa se assume como espécie de passagem para uma nova etapa da vida e como demonstração pública, ou privada, da sua pseudo-masculinidade.
No primeiro andar a sala é escura, com mesas de madeira muito baixas e sem qualquer piada. As paredes estão vestidas de espelhos pintados com alusões ao natal e com enfeites coloridos do mais medonho que já vi. Não consigo saber se as mesmas são deste ou de outros natais. Mas isso ali não interessa. Os rapazes estão agitados; em grupo os rapazes são sempre mais fortes, mais corajosos, mais inventivos. Mais audazes. Mas também mais palhaços e agressivos. Os mimos variam entre o puro sadismo, a ofensa gratuita e o directo ao assunto. Saber quanto é para o show, para a dança, para o espectáculo de strip é a pergunta do momento. Euros não faltam. Que nos satisfaçam o pedido.
As profissionais do sector, utilizando linguagem sindical, estão estrategicamente sentadas, sós ou em grupo. Fumam e bebem. Umas de mini-saia outras de calças, mas todas têm em comum o facto de serem simplesmente horrorosas e vestirem-se espalhafatosamente. Aliás, umas até conseguem vestir-se sem roupa o que para a maioria das mulheres é um rude paradoxo. Têm caras sofridas. São velhas e novas mas de idades indefinidas. Talvez vinte. Talvez trinta. Uma, pelo menos, seguramente cinquenta. Outra, sozinha numa mesa, está em gravidez avançada, não sei se de um cliente, se de um namorado a quem sustenta algum pernicioso vício. Não sei. Há ainda outra que se diz brasileira, mas a quem se nota a pronúncia forçada e uma que diz vir de Lisboa. A concorrência deve estar a apertar.
Ali há muito que não há esperança. Nem nas novas, nem nas velhas, nem na grávida, nem na brasileira, nem na lisboeta. Nada. Todas sabem que aquilo as desgasta, que as desgastou, que o seu futuro, e parte do seu passado, está entre aquele lance de escadas e as quatro paredes que as prendem àquele sítio ou ao andar de cima onde mais intimamente satisfazem desejos e fantasias dos eventuais clientes, habituais ou esporádicos, tal e qual como acontece agora no seu presente. Não passam dali. O seu sorriso, a sua conversa, nunca as levará mais longe; dali nunca fugirão do pesadelo em que mergulharam as suas vidas há muito tempo quando Deus e o mundo lhes viraram as costas e sós decidiram enfrentar o seu destino. Quem chega ali, não desce mais: bateu no fundo e vive na mais abjecta decadência e sujeita-se ao mais infame dos tratamentos.
Tudo é alimentado por um bar e por uma cabine de dj que são cuidados pelo mesmo indivíduo que faz de porteiro, um indivíduo carrancudo que não aparenta ser muito forte (mas que deve saber truques de karaté de certeza absoluta), num verdadeiro três em um. Não há tempo a perder. Numa última instância uma delas ajuda a servir e muda a música ambiente. Basta para satisfazer as poucas necessidades da casa vazia para um sábado. Para além de nós, conto dois clientes numa já animada bebedeira. Estão sós. Nenhuma das moças os acompanha e nenhuma delas parece se importar com isso. Bebem cerveja. Nestes sítios é conveniente que assim seja: beber coisas que possam ser ingeridas pela garrafa. É higienicamente mais seguro. Eles personificam outro tipo de decadência: a solidão dos homens; o seu desespero; o alcoolismo; a queda vertiginosa ao abismo daquele submundo estranho mas que visto nos filmes é altamente perturbador, aliciante e, quem sabe, até viciante.
Escolhemos finalmente uma qualquer moça, magra, muito magra, das novas e que dizia ser cá da terrinha, que fez o show com um mínimo de profissionalismo exigido. Acabava de garantir o seu rendimento mínimo da noite. Isso era importante. Estava satisfeita. Nós ríamos (também faz parte da decadência), e mostrávamos satisfação plena por aquele momento (também faz parte da mesma decadência). Estava finalizada a nossa missão. Estávamos prontos para ir embora. Lanço um último olhar: elas continuam impávidas. Sinto agora que aqueles enfeites de natal não estão ali desde o ano passado: estão desde sempre porque só sendo sempre natal se consegue continuar a sobreviver ali. Os olhos não mentem, não conseguem mentir nem esconder a tristeza que os alimenta. Cada uma tem um percurso de vida que conta misturando mentiras que se tornam verdades e verdades enriquecidas com mentiras. Olho e pergunto-me: a quem interessa as suas histórias sempre iguais e sempre diferentes? Ali, a ninguém seguramente.

Andar no tempo...

... e ver a máscara cair. Promessas e promessas. Bazófias várias. Tudo a ruir.

Um Mundo Novo

Largando as comunidades tradicionais. Vivendo cada vez mais isolado. Vendo o novo mundo entrar pelos olhos adentro, confortavelmente sentado numa cadeira, falando e comunicando com o mundo e falando e comunicando com gente espalhada nesse mundo. Tudo é partilha, é rede, é conhecimento. Tantas possibilidades de ser e não ser virtual. Podemos escrever, viver uma segunda vida, partilhar conhecimentos, conhecer gente, falar com pessoas, gerir um clube de futebol, vender e comprar, procurar o mundo no mundo, ouvir o mundo, ler o mundo, rir e chorar com o mundo ... tanta coisa. Seremos hoje mais felizes? Não sei. Mas ao menos podemos ver o mundo.

A menina Natal

Alguém descobriu que as criancinhas preferem as meninas natal aos pais natal. A estapafúrdia ideia está na placa central do Funchal, inundada por um bando de adolescentes apostadas em mostrar as pernas pelo bom do comércio. Claro que as pernas pretendem vender. E mostrar. E insinuar. E claro que as meninas não são inocentes que não percebam o seu verdadeiro papel e a mensagem subliminar que alguém, através delas, pretende fazer passar. Depois do marketing vocacionado para as crianças, nada como inventar o marketing vocacionado para os pais dessas mesmas crianças. Afinal, são eles que têm a carteira e o subsídio para gastar. Talvez por isso as meninas natal sejam uma criação recente num tempo onde tudo se vende e tudo se compra (perdoem-me a frase feita).
Há muito tempo que o Natal entrou nesta decadência sexual insultuosa para o seu verdadeiro espírito. Um espírito cada vez mais mercantilista e estereotipado cujo objectivo único e tirânico é contentar uma massa disforme de gente que não se suporta e que o natal faz sair à rua. Na verdade, passamos um ano inteiro a dizer mal de toda a gente e pouco mais de meia dúzia de dias à procura da redenção e da paz interior que nos faça pedir perdão a Deus (ou a algum Deus), através de curiosos incentivos e subornos.
Lá longe, de certeza absoluta, alguém se diverte muito com este assunto. Neste tempo complicado, que devia ser espartano por sinal, continuamos a insultar o que fomos, esquecendo o que verdadeiramente somos. Mas esta extraordinária experiência esclarece uma dúvida essencial: afinal, nem todas as pessoas são escolhidas a dedo. Há algumas que são escolhidas a perna.

28.12.06

O Rio de Janeiro continua lindo






Quando o Estado deixa de ter o monopólio do uso "legítimo" - à luz dos seus cidadãos - da acção coerciva, geram-se situações extremadas, que poderão desembocar no fim abrupto do próprio Estado.

No Rio, há muito que se vive um clima de tensão semelhante ao de uma guerra civil. De um lado, "mílicias" que ninguém controla tentam impôr a sua lei, invadindo favelas e executando, sem julgamento, criminosos ou pretensos criminosos. Do outro, grupos de fora-da-lei respondem com extrema violência.

Os poderes político e judicial quedam-se impotentes, sem conseguir controlar quer uns, quer outros.

Os acontecimentos de hoje no Rio deverão servir como alerta (mais um alerta): se não conseguir controlar a criminalidade, será o próprio estado brasileiro a ser posto em causa. E, face ao cenário geopolítico que envolve o Brasil, seria de todo o interesse que a comunidade internacional dedicasse alguma atenção e algum tempo a analisar o assunto.

Na América do Sul, se há coisa de que ninguém necessita nestes tempos é de outro ditadorzeco atrevido como Morales, Chavez e outros que se aproximam.

Stuart Staples - Leaving Sons


As vantagens da Fnac I.

15.12.06

APF - Associação para a promoção do quê?

As senhoras e senhores dirigentes da APF, que ao longo de quase 3 décadas tem formado dezenas de socialistas e reclama-se, pomposa e presunçosamente, como Associação para o Planeamento da Família – como se este planeamento fosse uma prerrogativa sua! – entendem que a prática de aborto não deixa sequelas psíquicas nas mulheres que o praticam. E são estas e estes senhores (para ser minimamente educado) que querem promover a Educação para a Sexualidade nas escolas. É esta gente que quer ser (e, infelizmente, tem sido) parceiro privilegiado do Estado para a promoção de uma cultura de planificação familiar, de educação para a sexualidade e os afectos e educação para a saúde. Estas pessoas que querem ter um papel determinante da formação das nossas crianças. Eu por mim, sou claro: jamais submeteria um meu educando às mãos desta gente. Mil vezes o radical oposto!

13.12.06

Sócrates: play dead!

O Governo de Sócrates surpreendeu-nos a todos, esta semana, com o anúncio de uma tal Empresa de Serviços Partilhados da Administração Pública (ESPAP), que terá como objecto a reforma da Administração Pública e futuramente será responsável pela gestão dos recursos humanos e aquisição de bens e serviços.
Para além de algumas dúvidas que se me colocam em relação à legalidade desta empresa, não posso deixar de estranhar que num momento em que se pretende diminuir a máquina no Estado e os seus custos, se crie uma empresa que irá cobrar ao Estado pelos serviços prestados. A mim parece-me que esta é apenas uma medida sub-reptícia para poder pagar os ordenados milionários aos seus administradores que serão, com certeza, homenzinhos do PS. É a economia outsourcing no seu melhor: o Estado poupa em despesas com recursos humanos, enquanto o dinheiro dos contribuintes portugueses é habilmente utilizado para pagar fortunas a meia dúzia de abutres.
E por falar em outsourcing, já repararam que o Estado português, que deveria garantir a moralidade no sistema laboral, cada vez mais promove o sub-emprego e recorre a empresas para prestação de serviços, cujos funcionários ocupam vagas e lugares imprescindíveis ao bom funcionamento da máquina? Dir-me-ão: “é a economia, estúpido”. Pois que seja, mas não me agrada viver num país em que o Estado é a principal entidade que viola a moralidade, na sua relação com os cidadãos. E não me venham argumentar que é legal, porque não deixa de ser imoral. A título de exemplo: neste momento as Actividades de Enriquecimento Curricular, que devido aos horários implicam a contratação de 10% da média de funcionários das Autarquias, são quase exclusivamente leccionadas por professores com contratos de prestação de serviços ou por empresas que pagam miseravelmente aos seus docentes. Outro exemplo: tenho um amigo, licenciado, que durante 5 anos foi gestor de Edifícios da PT, colocado por uma destas empresas, a receber a maravilhosa quantia de 700€. São, efectivamente, estes os maravilhosos benefícios prestados pelos especialistas portugueses! E o nosso PM ainda nos vem acenar com a flexisegurança. Já só apetece mesmo dizer: “Sócrates: play dead!”

9.12.06

O referendo

A exemplo de alguns socialistas e outros democratas que tais, vi hoje Jorge Coelho defender que se o resultado do referendo sobre o aborto não for vinculativo, a Assembleia deverá legislar de qualquer maneira.
Para além de ver aqui uma cedência à esquerda mais radical - será que o ex-homem forte do PS vai iniciar agora a rotura com a direcção de Sócrates? -, vejo também uma atitude profundamente anti-democrática que só serve para descredibilizar - ainda mais - os deputados da Nação. Mais, a ser feito, conseguirão destruir definitivamente esse ex-libris da democracia participativa que dá pelo nome de referendo, colocando mesmo em causa este sistema político.
Inferir que da fraca adesão nos referendos está a vontade do povo em colocar o seu destino nas mãos dos políticos, é uma atitude irresponsável e pretensiosa. Se o povo não está mobilizado, é porque reconhece que a classe política portuguesa não é digna da sua confiança. Trata-se de uma incapacidade e incompetência dos dirigentes que não conseguem motivar os cidadãos para a participação. Sorte é ainda haver quem participe, perante os tuaregues que proliferam do deserto da política portuguesa.
Sabemos que este conceito da participação nunca foi acarinhado pelos dirigentes deste país. Esta mentalidade é antiga, mas mantém-se bem viva. Basta ver a morte anunciada do instrumento referendo que alguns líderes de opinião têm feito passar. Mas será uma ignomínia sem tamanho transformar esta desconfiança surda em prática política. Será um retrocesso ímpar na recente história democrática portuguesa e será, definitivamente, uma traição irreparável aos ideais de Abril.
PS - Por aqui ninguém se lembrou do 25 de Novembro. Pois bem, eu tal como comemoro o 25 de Abril, bebi à saúde dos militares que se opuseram à tentativa de tomada do poder por parte de forças estalinistas.

7.12.06

Ninguém lhe pergunta nada?

Bem sabemos que o Dr. Bernrdo vive numa redoma de vidro, protegido do "mundo mau" enquanto espera que Serrão e sus muchachos se estrepem, algo mais que previsível.

Mas faz-me confusão que ninguém lhe pergunte nada. pelo menos uma perguntinha... Mas é que nem o JM...

Então a TAP aumenta as tarifas para a Madeira e mantém os preços nos Açores e ninguém lhe pergunta nada sobre o assunto? Mesmo que o aumento acabe por prejudicar aqueles que são... negócios de familia?

Fala-se sobre a possibilidade de liberalização do mercado do transporte aéreo e... nada?

Fala-se sobre o claro desrespeito da TAP pelos madeirenses, practicando preços inacreditáveis e... nada.

Ninguém lhe pergunta nada sobre a tão famigerada LFL (sendo o Dr. Bernado membro do Executivo, era normal...)

Ninguém lhe pergunta nada sobre...nada. E eis que paira, o Dr. Bernardo, sobre as trapalhadas do Governo a que pertence. À espera que outros dêem a cara.

E ninguém... lhe pergunta nada.

O pior é se os "timings" se baralham. Essa é que era grave.

6.12.06

E assim vai o nosso mundo

O presidente da Assembleia Legislativa da Madeira volta a ser notícia pela pior razão

Depois da estúpida norma por causa do vestuário dos jornalistas, agora, é a restrição da circulação dos profissionais da comunicação social no parlamento.

É triste quando os maus exemplos vêem de cima. Mais grave ainda, por ser do órgão máximo da soberania na Madeira.

A restrição imposta viola um princípio básico da lei de imprensa. O livre acesso dos jornalistas às fontes de informação. Caso o Senhor Presidente não saiba a lei faz parte da Constituição da República Portuguesa . A não ser que a Madeira já seja independente e eu não tenha conhecimento da novidade.

A lei diz:

" Artigo 2º - A liberdade de imprensa abrange o direito de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações.

Artigo 3º - O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura.

O Direitos dos jornalistas b) A liberdade de acesso às fontes de informação, incluindo o direito de acesso a locais públicos e respectiva protecção.”


Senhor Presidente, ainda está a tempo de emendar o erro. Caso contrário, não fique chocado se a Comunicação Social disser e escrever que a Madeira é uma república das Bananas, ou da América Latina. Lá matam, aqui são mais refinados nos ataques que desferem aos jornalistas.

Para quem não conhece, as regras impingidas, limitam a circulação dos jornalistas nos corredores da Assembleia. Veda o acesso ao bar, à troca de impressões com os deputados. Elemento fundamental no processo de cruzamento da informação e das fontes.

Ninguém invadia as zonas “privadas”, como os gabinetes dos Grupos Parlamentares, ou a presidência do parlamento.

É portanto, mais uma medida que ninguém percebe. Até o próprio obreiro terá dificuldade em explicar a última obra.

1.12.06

Mistura

O novo 007 pareceu-me uma mistura de panfleto publicitário com Extreminador Implacável 2. Haja paciência para aguentar aquilo até ao fim...

24.11.06

Aborto: será uma questão de crença?

Porque todos nós começamos a ficar fartos da política e dos políticos, hoje escrevo sobre um tema que gera paixões e divide profundamente e legitimamente a sociedade portuguesa: o aborto e o referendo que se aproxima (isto é, caso o Presidente da República decida convocá-lo).


Até ao momento, tenho visto os defensores do Sim à pergunta do referendo alegarem 4 razões fundamentais para justificarem o seu voto.

a – são as mulheres que mandam no seu corpo;
b – é uma vergonha mulheres serem julgadas por praticarem ou serem sujeitas a um aborto;
c – as condições deploráveis a que algumas mulheres se submetem;
d – famílias e mulheres sem condições para educarem uma criança.

Alguns defendem apenas uma, outros defendem várias e outros, menos cuidadosos, defendem todas.

Eu voto Não. Como sei bem que os defensores da liberalização (é disso que se trata, deixem-se lá de eufemismos) não estão interessados nas minhas razões, e como também sei que mesmo que as ouçam, não as valorizam, vou apenas dizer porque não concordo com os argumentos pelo Sim.

a) Vociferem o que quiserem vociferar os movimentos feministas mais apaixonados e mais ou menos radicais, mas jamais aceitarei discutir com base de que no corpo das mulheres mandam elas. Um embrião não é um apêndice do corpo feminino. As mulheres que disponham como quiserem do seu aparelho reprodutivo, mas nunca lhes reconhecerei o direito de disporem de um embrião. Porque um embrião é uma vida, numa fase que ainda compreendemos pouco, mas que não deixa de ser uma vida. Não sou eu que o digo, é o dr. Gentil Martins.

b) O argumento de que é vergonhoso mulheres serem julgadas também está enfermo de falácias:
1.º - um dos casos mais mediáticos foi o de uma mulher de Setúbal, que fez um aborto aos seis meses. Ora, caso a liberalização (insisto) tivesse sido aprovada em 1998, a sra. teria sido julgada na mesma. Para além disso, perdoem-me, mas abortar voluntariamente aos seis meses não me parece defensável racionalmente. Qual é o argumento?
2.º - quando uma mulher fizer um aborto, recorrendo aos antigos métodos, às 11 ou 12 semanas, como é que vai ser? Serão essas mulheres julgadas? Continuaremos com essa vergonha? O que é que a alteração da actual lei irá mudar?

c) Este é um dos poucos argumentos a que sou sensível. Não conheço nenhum local onde pratiquem abortos. Nunca tive que recorrer, mas não me parece que aquela ideia que a Dra. Odete Santos defende, de abortos feitos com agulhas de tricotar, tenha alguma relação com a verdade. Com tantos medicamentos abortivos, de venda livre, que existem no mercado, não sei se continua a ser necessário agulhas que estraçalhem os fetos. A realidade continua a ser hedionda e brutal, mas acredito que sem esta ficção demagógica.
O não quer dizer que os abortos sejam menos perigosos. But, then again, qualquer aborto está envolto no perigo, que não sei se diminui por ser feito num hospital público. Realço ainda o facto de que estes párias continuarão a existir, uma vez que continuará a haver clientela (gravidez com mais de 10 semanas).

d) Este é um argumento complicado: o que são consideradas condições adequadas para criar uma criança? Os meus pais nunca foram ricos e criaram 6 filhos. Conheço pessoas ainda mais pobres que também educaram os seus filhos, com, amor, carinho, e sem que lhes tivesse faltado qualquer bem essencial. Por outro lado, sabemos que o mundo é volátil e as minhas condições financeiras de hoje, poderão não ser as de amanhã. Em relação ao abandono de crianças, sejam honestos e digam lá: acreditam que o mundo vai passar a ser um lugar melhor para as crianças? Que estas terão mais amor e melhores condições? Que vão deixar de haver os abandonos, os maus tratos? Acham mesmo que a miséria vai desaparecer? Ou, sequer, que as crianças irão desaparecer da miséria?

Reconheço que a questão é complicada. Mas sinceramente não revejo qualquer peso aos argumentos apresentados. São demasiado falaciosos. Ainda assim, continuo aberto à discussão. Argumentem! Afinal, também é para isso que os blogs servem.

22.11.06

Georges Remi


O criador de Tintim dá pelo nome de Georges Remi. E por que se chama Hergé então? Porque, pegando nas iniciais de cada nome, invertendo a sua ordem e soletrando cada letra por extenso dá her(r) e ge(g), daí o Hergé. Felizmente, já sabia isto muito antes de pôr os pezinhos no Museu da Banda Desenhada de Bruxelas.

Coisas da Bélgica




Pierre Marcolini



Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas do mundo não ensinam mais que a confeitaria.

(Fernando Pessoa/Álvaro de Campos)


Comer chocolates é melhor do que fazer quase tudo. E então se for na melhor chocolataria do mundo, não sei se será o superior dos prazeres.

A chocolataria Peirre Marcolini de Bruxelas é um daqueles espaços únicos no mundo que, mesmo sem seguranças à porta, afugenta logo a saloiada, a qual, em regra, pouco quer saber da pureza do cacau ou da sua proveniência (Equador, Madagáscar ou Venezuela). E muito menos quer ouvir as explicações dos funcionários trajados com cores de chocolate semi-amargo.

Neste lugar tudo é absolutamente cuidado, mas sem folclore e sem nos impingirem nada: a apresentação da iguaria, a sua disposição na vitrina e a cara, quase sempre neutra, de quem sabe o que vende. Depois, vem a caixinha, e que caixinha! Já na rua, e com a cumplicidade de uma nova amiga de muito bom gosto, fiquei sem saber se o que levávamos na mão era uma jóia ou um doce.

Na América, pois claro

Sem grande esforço facilmente se conclui que a ciência económica e, por arrasto, a da gestão, é uma invenção dos EUA. Ou, pelo menos, foi nos EUA que se aperfeiçoou como verdadeira ciência.

Desde 1969, ano em que foi criado o prémio nobel da economia, a esmagadora maioria dos premiados são norte-americanos, e quando não o são, são ingleses, o que é substantivamente o mesmo. Quanto a mim, só isto chega para explicar quase tudo aquilo que representa a sociedade americana hoje no mundo.

Milton Friedman, claro, também está lá. “A liberdade de escolher” foi o seu livrinho que, mesmo sem darmos conta, mudou parte do mundo. Certo Gonçalo?

Stimorol


Como um sem número de coisas boas, há muito que o Stimorol não se vende em Portugal. Disseram-me que era porque tinha alguns elementos com propriedades cancerígenas. Pois bem, mas na Bélgica podemos encontrá-lo. E não me parece que possamos dar lições de saúde aos belgas.

Por mim, mesmo sem ser fã de chicletes, aprecio o pacotinho que ainda mantém o grafismo dos anos 70 e, mais importante do isso, não deixa que as “pastilhinhas” se colem umas às outras quando expostas ao calor. Quer isto dizer que já faço parte do clube da Lenca.

16.11.06

"Até que dê sim"

Uma amiga, quando quer exemplificar a insistência absurda numa tese, numa ideia ou noutra coisa qualquer, utiliza a expressão "é como o referendo ao aborto. Vai tentar até que dê sim...".

E isto vem a propósto de um texto (muito bem) escrito aqui. A ler.

Milton Friedman


Não é um dos meus heróis (o Magno não dirá o mesmo). Mas é indiscutivelmente um dos mais marcantes economistas do século...

Regresso

Hoje, voltei a um sítio onde não ia há anos. E senti saudades. Do cheiro, dos monitores encostados uns aos outros, da "maior notícia do mundo" prestes a sair, do tocar incessante dos telefones, das portas que abrem e fecham constantemente...

Só 350 milhões?

Ao que parece, o Governo da Republica "escondeu" 350 milhões de euros da dívida pública. Para quem se dá ao luxo de apontar o dedo, não está nada mau...

Será que o Ministro das Finanças multar-se-á a si próprio? Espero para ver.

Festival

O Festival Internacional de Cinema do Funchal continua com mais espectadores do que o ano passado, com melhores filmes e com boa cobertura mediática. Quem parece ainda não saber o que se passa é o Governo Regional, atendendo ao "distanciamento" com que tem acompanhado o conjunto de eventos. É pena que aquele que poderia ser um óptimo cartaz turistico só recolha o apoio da Câmara Municipal do Funchal, que pese embora todas as suas limitações financeiras, faz o que pode...

12.11.06

Viva Portugal

1 - Foi bonito ver no Expresso desta semana Miguel Sousa Tavares elogiar o melhor primeiro-ministro português. Fiquei sensibilizado e deduzo que Sócrates também terá ficado. Começo a achar que mais dia, menos dia, MST vai mesmo para a RTP. É bonito ver que a amizade entre os dois prolifera a olhos vistos. O que é óptimo porque a amizade é uma relação nobre. Gostava é que o MST deixasse aquela sua pose de eu-que-sou-isento-tenho-reserva-moral-para-dizer-tudo-o-que-me-apetece. Porque também começamos a perceber que as suas opiniões estão profundamente inviezadas pelas suas crenças pessoais. Era bem melhor que o opinion-maker assumisse que gosta de fazer favores ao PS de Sócrates, como já assumiu que não gosta de Jardim. Pelo menos era mais honesto.

2 - De Santarém, nada de novo: os fiéis socialistas continuam a beijar o chão que Sócrates pisa. Esperemos que não sejam espezinhados.

3 - Parece que a Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) vai investigar as pressões do PS aos jornalistas da RTP. Não percebo o silêncio do Sindicato dos Jornalistas que ainda não tomou qualquer posição sobre o assunto. Mas continuo à espera.

4 - Sócrates diz ouvir a rua. É pena que este fabuloso democrata não oiça os jornalistas quando lhe fazem perguntas incómodas. Não são muitas vezes, mas sempre que acontece Sócrates dá a sua melhor parte e o que mais gosta de dar: as costas. É interessante o processo de transformação que afecta o nosso PM: no início, sempre que a pergunta ponha em causa as suas posições, Sócrates assumia a postura de virgem ofendida e dizia: pelo amor de Deus! Agora, fica com ar furioso, não responde e pressiona, por trás do pano, os jornalistas. Cheira-me que qualquer dia começa a esmurrá-los. O que até nem seria mau, para ver se acordam e deixam de proteger este governo miserável.

5 - Por falar em jornalistas, é usual ver, nos dias que correm, a comunicação social questionar a progressão automática na carreira dos professores e demais função pública. Será que a rapaziada esquece que também eles têm um sistema de progressão automática? Afirmam que nem todos os jornalistas podem ser editores. Ora, pois bem, mas também nem todos os professores pertencem aos órgãos dirigentes das escolas.

Definitivamente, a falácia toldou a mentalidade a esta gente.

O que move Maximiano Martins

Não existem muitos socialistas madeirenses que mereçam o meu reconhecimento e admiração. Maximiano Martins foi uma excepção. Não só pela sua competência técnica e política, mas pelo facto de denotar um profundo sentir democrata. Por isso, sempre me pareceu que o deputado reunia condições óptimas para vir a ser, um dia, candidato a presidente do Governo Regional.
Todavia, nos últimos tempos, as suas atitudes têm sido uma desilusão. Isso mesmo fiz saber ao deputado, através de carta, aquando da polémica sobre o Centro Internacional de Negócios da Madeira (proposta para descida de IVA para as empresas de novas tecnologias). Na ocasião, o deputado teve a amabilidade de responder e reservando-me o direito de não publicar a sua resposta - não me parece curial, tendo em atenção que a troca de respondência obedeceu a um critério de eleitor-eleito - , retiro apenas uma citação; Maximiano Martins afirmou-me: Eu defendo, segundo o meu critério e a minha consciência, os interesses mais gerais da Madeira, dos madeirenses e do meu país.

Na ocasião, a sua afirmação bastou-me: afinal, podia divergir, mas teria que reconhecer a legitimidade da posição contrária. Todavia, desde o debate na 2, no passado sábado, as suas palavras têm me atormentado e não me saem da cabeça. Para quem não viu, quando inquirido sobre a bondade da proposta do Governo para a Lei das Finanças Regionais (LFR), o deputado eleito pelo círculo eleitoral da Madeira apenas soube dizer, em sua defesa, que a actual lei previa a sua revisão em 2001. Nada sobre a violação do Estatuto Político-Administrativo da Madeira, nada sobre o empolamento do PIB devido ao off-shore, nada sobre a real perda de fundos que a RAM irá sofrer e que, mais do que o Governo Regional e o seu presidente, irá prejudicar o povo madeirense. A sua posição foi não só frustrante, mas agoniante. Que interesses mais gerais da Madeira poderia o deputado defender com a apologia desta proposta do Governo, que prejudica objectivamente e de facto o povo madeirense? Para mim, foi a gota final que fez transbordar o copo: não tenho mais ilusões sobre o que move o deputado Maximiano Martins. Hoje, sei bem que a defesa clubística do seu partido é mais importante do que a defesa da Madeira e dos madeirenses. E isso jamais poderei aceitar.


4.11.06

Porque a irritação não permite escrever muito

1 - Eu, que não me revejo na arruaça, cada vez mais acho que só temos um caminho: para rua e com força, porque estou convencido que a luz ao fundo do túnel é efectivamente a de um combóio que nos vai albarroar.

2 - Felizmente, parece que este povo de brandos costumes começa a despertar para o perigo que nos ameaça. Prevejo que a insatisfação social continue a crescer e que o coro de assobios aos membros deste governo continue a aumentar. Não me parece que os próximos tempos sejam pacíficos para Sócrates e seus pares, o que é uma boa notícia.

3 - Os socialistas madeirenses aplaudem a nova lei das Finanças Regionais. O absurdo e a idiotice continuam a comandar a Rua do Surdo. Também esta é uma boa notícia. Pelo menos porque nos garante que a Madeira não será governada por um qualquer serrãozito. O cúmulo da estupidez é que ele não perceba isso.

4 - Afinal, as FARC não vêm à reunião do PCP. Esta é uma má notícia. Porque poderia ser que assim alguns destes criminosos fossem colocados a ferros. Que é o que merecem.
Já os democratas Norte-Coreanos irão marcar presença. Pode ser que instruam o Bernardino Soares na nobre arte de fazer morrer o povo, enquanto se criam umas bombinhas nucleares para ameaçar tudo o que mexe.


Por hoje chega. Estou demasiado irritado com o que se passa no meu país. Só me apetece fugir, mas não sem antes deixar umas bombas nuns lugares que eu cá sei.

Super-Sócrates, o seu amigo Sousa Tavares e a RTP

Afinal, parece mesmo que o PM convidou Sousa Tavares para director da RTP. Felizmente, para todos nós, o Miguelito recusou o tachinho. É que o cargo não lhe garantia tempo de antena para continuar a proferir os dislates e alarvidades com que nos brinda na TVI.

Parece, também, que um assessor de Sócrates anda a querer mandar bitates na RTP. De acordo com um deputado do PSD, o tal assessor telefonou para impedir - ou, pelo menos, para dourar - uma notícia desagradável ao Governo Português. Desde há algum tempo que a minha intuição me tem alertado para as tendências absolutistas e autoritárias deste Governo. Infelizmente, parece que não me enganei. Curioso é que os socialistas continuem calados com esta atrocidade. Aqueles mesmos que bradaram em alto e bom som contra o décifit democrático da Madeira, desta feita ficam caladinhos. Cá continuaremos para ver até onde chega o desplante.

Super-Sócrates

O Governo Português pagou uma pipa de massa a uma revista para publicar 10 páginas de elogios a Sócrates e a Manuel Pinho (esse personagem estranho, que profere imbecilidades a um ritmo estonteante, cujo principal mérito para os socialistas é o de ser exímio a fazer anúncios - aliás, se o investimento acontecesse ao ritmo com que anuncia, Portugal seria um fenómeno ímpar de competitividade). Ao que parece, no artigo, Sócrates é referenciado como um autêntico salvador da Pátria, qual D. Sebastião, que surge para nos livrar do jugo desgovernativo imposto por todos os seus antecessores. Parece mesmo que o Presidente da República surge como um figurante, para apadrinhar e embelezar a performance do nosso brilhante PM, que tão bom trabalho tem realizado no desenvolvimento do nosso país.

Resta esperar para ver o que fará a nossa Rainha de Inglaterra. Comportar-se-á como tal ou definitivamente fará o que esperam todos os eleitores que nele votaram? Cá estaremos para ver.

PS - Curioso que esta notícia tenha escapado à RTP, quando foi sobejamente esplanada no Sol.

24.10.06

“Memórias de um rústico erudito”


É dos melhores livros autobiográficos que já li. Pode não parecer, mas Rosado Fernandes foi professor na Universidade de Columbia em Nova Iorque, onde, em poucas linhas, diz aquilo que já todos sabemos: que nos EUA ninguém ganha nada sem trabalhar.

Para a posteridade fica o episódio em que Rosado Fernandes, quando era eurodeputado eleito pelo CDS, esbofeteou um deputado dinamarquês, supostamente por este ter insultado o seu “bom nome” e o de Portugal. Sem dúvida um grande homem, nas armas e nas letras, claro está.

A diarreia de Miguel Sousa Tavares


O mais pulha dos comentadores portugueses, de quando em quando, vomita o seu ódio contra a Madeira. Se pudesse, Miguel Sousa Tavares deixava os madeirenses à fome. E se se aguentassem, não ponho de parte que os mandava gasear.

O seu ódio é de tal ordem de ordinarice que omite tudo que possa credibilizar os madeirenses. Omite a percentagem de aplicação dos fundos comunitários, omite a melhor rede de estradas do país, omite os progressos evidentes, o aumento do poder de compra, o desporto, o crescimento de grupos empresariais (como se fossem só os empresários madeirenses a estarem conluiados com o Estado). A MST só o anedótico interessa.

Felizmente, MST é só um simples comentador que intervala análises políticas superficiais na TVI com personagens dos “Morangos com Açúcar” ou, mais recuadamente, com teenagers anónimos do Big Brother.

Se MST fosse alemão ou filandês, ainda se aturavam as suas críticas maldosas. Agora, ouvir sermões de dedo espetado de um tipo que é dum país que não consegue dar um só exemplo de organização e eficiência é que não.

O Independentista de São Vicente

O que mais irrita na sociedade madeirense é a sua capacidade para amplificar disparates, como é o caso da teoria da independência da Madeira.

Ainda não vi ninguém vir dizer ao senhor Gabriel Drumond para ter juízo. Dão-lhe importância e rios de entrevistas onde espalha os seus pensamentos de aldeão.

Para nosso grande mal, a Madeira não é mesmo auto-viável. E não há volta a dar a isto, pelo menos nas próximas décadas. Resta-nos pedir, e com jeitinho, como sempre se fez.

19.10.06

Patriotas (e cegos)

Quase 50% dos espanhóis querem uma união ibérica. "Deste" lado da fronteira, são pouco mais de 25% aqueles que defendem tal cenário. É a nossa tradicional cegueira a vir ao de cima!

Regresso

Depois de duas semanas de férias, uma delas passadas na melhor das cidades que conheço - Barcelona - voltar à realidade insular é um martírio. Brevemente, prometo escrever qualquer coisa sobre o assunto. Ah, e sobre a Lei das Finanças Regionais, o Estádio do Marítimo, o PS e o PSD e a CDU e o BÊEE. E sobre a crise, sobre os comboios que perdem carruagens em Cascais, sobre as novelas da TVI, sobre o Prof. Marcelo e sobre todos os assuntos que interessam à pátria lusa. Mas por agora, vou tomar qualquer coisa que me permita enfrentar o mundo como ele é.

Finalmente

Finalmente, a polícia fez o que lhe competia, ou seja, expulsou os ocupantes do Rivoli. O espectáculo já era deprimente!

Blog do BTT

Mais um blog. Para BTT (que bem merece).

16.10.06

Descobertas

O Público descobriu, através de um estudo encomendado pelo Ministério da Administração Interna destinado à reestruturação das polícias, que a larga maioria dos elementos da GNR não é dada ao uso das novas tecnologias. Diz o mesmo estudo que num total de aproximadamente 25 mil efectivos, apenas 300 têm correio electrónico, um número, pelos vistos, muito aquém do desejado e que manifestamente traduz o arcaísmo da instituição e dos seus elementos. A coisa não escandaliza, nem deve sobressaltar ninguém. O retrato do Portugal profundo está aqui e pedir mais é como pedir o impossível.
Num país onde navegar na net pode custar 35€ ao mês, muito me espanta a quantidade de gente que se predispõe a fazer um sacrifício enorme para ter um serviço péssimo, caríssimo e onde a velocidade de acesso não passa de uma mentira consentida e consagrada.
Quanto aos elementos da GNR, pelos vistos às vezes mais ligeiros no gatilho do que no botão do rato, nada a dizer. Se hoje estes elementos pertencem a uma força obsoleta, a culpa única é do Estado, incapaz de reformar e de requalificar as suas pessoas e de voltar a torná-las válidas para as funções nobres que exercem.
Para terminar apenas um aviso: não estendam estes estudos e estas preocupações aos professores, aos médicos, aos enfermeiros, aos juízes, aos advogados ou a outros largos sectores da função pública. Nunca se sabe quando pode surgir uma verdadeira, e desagradável, surpresa. É que não basta falar muito em tecnologia...

Dúvidas existenciais III

Não era o Dr. Dias Loureiro que queria fazer de Portugal uma imensa Madeira?

Negócios

O Google comprou o YouTube num negócio avaliado em largas centenas de milhões de dólares. Num mundo enlouquecido pelos grandes negócios – não apenas entre gigantes tecnológicos – este é apenas mais um exemplo de aparente sucesso. Mas o negócio, de contornos inimagináveis, tem algumas particularidades interessantes que valem a pena revelar. Por exemplo: ambas as empresas nasceram em garagens; ambas as empresas têm donos com idades inferiores a 35 anos; e ambas as empresas são fruto de verdadeiro capital semente oriundo de uma mesma empresa vocacionada para o capital de risco.
A ignorância leva-nos a que muitas vezes olhemos para a América como um monstro liberal de excessos em que a doutrina se resume ao dinheiro e à competição desenfreada entre pessoas que não olham a meios. Mas ao contrário desta Europa emperrada, onde quase tudo depende dos governos e consequentemente dos nossos impostos, na América o risco é um negócio que não é exclusivo dos bancos e dos seus inusitados e despropositados juros. Por isso, há verdadeiros mecenas dispostos a arriscar, no escuro, em gente nova e com ideias que aproveitam assim a deixa para mostrar o seu valor. Eis uma lição que alguns podiam aprender.

Dúvidas existenciais II

Se o jantar com o candidato a secretário-geral era apenas para destacados militantes, o que faziam na mesa de honra destacados independentes?

Dúvidas existenciais

O novo Sr. Loureiro não tinha prometido abandonar o cargo de deputado se fosse eleito presidente da Liga?

A verdadeira selecção

Eis uma verdadeira selecção dos grandes portugueses. Este, este, esta, este e ainda este. Delicioso, no mínimo. Neste país onde um povo ligeiramente ignorante e fantasioso se prepara para eleger o maior português de todos os tempos, há uma lição que todos temos que aprender: no humor, na tragédia e no suportar deste triste fado e destino ninguém nos bate. Só me espanta que ninguém se tenha lembrado da Teresa Guilherme, do Avô Cantigas, do Badaró, das Doce ou do Vítor Espadinha.

14.10.06

Professores e Sindicatos

Em boa parte, a proliferação de sindicatos e sindicatozinhos de professores chega para explicar a falta de qualidade da nossa Educação. E isto foi só uma pequena listagem compilada à pressa.

FENPROF – Federação Nacional dos Professores
FNE – Federação Nacional dos Sindicatos da Educação
SPLIU – Sindicato Nacional dos Professores Licenciados pelos Politécnicos e Universidades
SNPL – Sindicato Nacional dos Professores Licenciados
SEPLEU – Sindicato dos Educadores e Professores Licenciados pelas Escolas Superiores de Educação e Universidades
FENEI – Federação Nacional do Ensino e Investigação
ASPL – Associação Sindical de Professores Licenciados
PRÓ-ORDEM – Associação Sindical dos Professores Pró-Ordem
FEPECI – Federação Portuguesa dos Profissionais da Educação, Ensino, Cultura e Investigação
SIPPEB – Sindicato dos Professores do Pré-Escolar e do Ensino Básico
SIPE – Sindicato Independente dos Professores e Educadores
USPROF – União Sindical dos Professores
SINPROFE – Sindicato Nacional dos Professores e Educadores
SNPES – Sindicato Nacional dos Professores do Ensino Secundário

10.10.06

O ciclo das Obras

A história da Madeira é rica em ciclos. Primeiro foi o ciclo dos cereais. Encerrado o capítulo, foi criado o ciclo do vinho, o ciclo da cana-de-açucar. Depois, veio o do vinho
versus turismo. Turismo versus vinho e banana. Por último. Banana, versus vinho, turismo e obras.

Entre 1995 e 2005. Muitas Obras versus turismo; menos vinho e muito menos banana.

Futuro 2007 - 2010. A região procura uma nova saída. Precisa de fazer face ao fim de mais um ciclo. Nos últimos 4 séculos, tem sido esta a sina da Madeira.

Será que vai conseguir dar novamente a volta?


E já agora. Onde está a “Madeira nova”? Hoje percorri metade da ilha e só encontrei obra para inglês ver.

Os novos espaços balneários estão às moscas. Todos juntos, não sei se empregam 70 pessoas. Pergunto. Como vão viver os madeirenses? Vão voltar a emigrar? Vão regressar à agricultura? À pesca, etc,…

É verdade que a paisagem mudou, e muito, o resto está igual. A obra só dura enquanto há máquinas no terreno. Concluídos os trabalhos, ficam as estradas, os novos edifícios, mas para que servem, se não geram riqueza?

A Zona Franca está mais de que provado, que não passou de mais balão de ensaio. O projecto, entretanto, fraquejou

É esta a encruzilhada da Madeira nova. Uma obra inacabada. Mas pior do que isso, uma obra sem fim à vista, dadas as circunstâncias.

60 mil bípedes

60 mil bípedes docentes em escolas portuguesas desceram a Avenida da Liberdade para protestarem contra o quê? Contra o que justamente já deveria ter sido feito há 40 anos: a progressão na carreira pelo mérito.

Pelo que quer que seja, e com pouca ou nenhuma razão, não deixa de ser uma imagem triste ver uma imensa corporação (com qualificações de quadros superiores) bater em latas e agitar varapaus.

A verdade é que não vejo outros grupos laborais (advogados, médicos ou engenheiros) fazerem estas figuras. Em regra, estas corporações dão-se ao respeitinho, porque, o que explica quase tudo, não se deixaram disseminar por 1001 sindicatos. Daí o seu poder negocial e a sua maior dignidade.

Sócrates na Madeira

José Sócrates veio à Madeira. Veio na qualidade de secretário-geral do PS mas com mensagens do Primeiro-Ministro. Até aqui nada de estranho. Estranho foi o “brilhozinho” nos olhos dos seus confrades locais, talvez porque já sentem o cheiro do poder. Por mim, espero que se fiquem só pelo cheiro.

Mas o mais patético foi, no jantar, se terem atropelado mutuamente para estarem ao lado de Sócrates que, pelo que sei, é uma companhia bem desagradável. Fora da televisão, e já antes de ser Primeiro-Ministro, Sócrates era agressivo e empertigado. Todos o diziam e dizem, de uma ponta a outra do parlamento nacional.

Ora, este embevecimento com o sotaque e os modos continentais explica, em boa parte, o insucesso endémico do PS-Madeira. Sócrates veio dizer que haverá menos dinheiro para a região e estes bípedes ainda aplaudem, esquecendo que, no orçamento geral do Estado, a Madeira conta uns irrelevantes 0,38%. Depois o que é que querem que os madeirenses lhes digam?

9.10.06

É no mínimo estranho. O Primeiro Ministro de Portugal deslocou-se à Madeira para reafirmar os cortes de dinheiro à região e foi para meu espanto aplaudido por um punhado de madeirenses.

Basta inverter o ónus da prova para perceber a falsa cruzada de José Sócrates: - Portugal também furou e continua a ultrapassar os limites do pacto de estabilidade da União Europeia, mas nunca foi crucificado. A Madeira fê-lo e é imediatamente penalizada. É justo?

É a questão que deixo esta segunda-feira aos homens e mulheres que aplaudiram as rigorosas medidas anunciadas pelo Secretário Geral do Partido Socialista.

Se eu sei que o produto interno bruto da Madeira está empolado, (por causa da Zona Franca) se o Governo Regional já reconheceu que ainda existem carências na região, se o próprio PS-M afirma que não somos uma região rica….como é que os madeirenses podem ser solidários com o resto do país? No entanto, ouviram a justificação do Primeiro Ministro, mas calaram-se.

Eu considero que fui assaltado pelo Primeiro Ministro. Não posso aceitar que no meu país as regras só sejam cumpridas por alguns.
Que de manhã ninguém faça caso delas e que à tarde a lei seja para cumprir.

Preocupa-me os madeirenses. Os que vão ficar sem trabalho, os que ainda precisam da ajuda “região” para viver. É esta a minha indignação face ao que ainda está para acontecer.

5.10.06

David Cameron

Depois da Economist desta semana ter falado no assunto, os jornais portugueses começam também a despertar para o novo "conservadorismo liberal" personificado por David Cameron. As eleições são apenas em 2009. Mas o debate promete.

O cartão único do cidadão

Será uma realidade em breve e sem praticamente nenhuma observação de maior. Por mais que me garantam o contrário, este é mais um pequeno passo para um controlo excessivo do estado sobre o indivíduo. Ainda se lembram no que isto deu?

Delenda Est Carthago*

As palavras de Catão, o Antigo, servem que nem uma luva para catalogar esta interminável e idiota cruzada contra os voos da CIA, por parte do Dr. Coelho e da Dra. Gomes. Esperemos que tanta obsessão não lhes fira a vista e não os deixe a espumar raiva. Ou que tudo isto não seja uma triste vitória de Pirro. Esta coisa de gente sem legitimidade nenhuma vir para aqui armar-se em moralista num país soberano só tem um objectivo: dar nas vistas para agradar aos eurocratas – um bando cada vez mais insuportável –, e assim continuar a chefiar umas comissõezinhas que lhes dão um certo ar de gente importante (mas sem importância nenhuma). Basta olhar para as duas figurinhas.
Para mim, como já muitas vezes o referi, palhaçada só mesmo no circo, com tipos que engolem fogo ou contorcionistas que roem as unhas dos pés. São bem mais entretidos e não chateiam ninguém.

*Cartago tem de ser destruída

O SITAM

Um sindicato de nome SITAM (pelo que percebi, qualquer coisa ligada ao comércio) veio reivindicar o fecho das grandes superfícies ao domingo como forma de combater a crise que grassa no comércio tradicional. A ideia, simplista como tudo, pretende colocar do lado das grandes superfícies o ónus da culpa de tudo o que aos mais pequenos acontece. Claro que ninguém explicou a estes senhores que a crise é generalizada, por exemplo. E que o movimento dos centros comerciais é de algum modo contracíclico relativamente ao movimento do comércio tradicional. Mais: quem aposta numa superfície comercial tem rendas mais elevadas, contratos mais exigentes e ainda um pagamento mensal, em muitos casos, que incide sobre a sua facturação bruta o que pouco lhe deixa de margem de manobra. Tem ainda, consequentemente, mais funcionários para pagar devido aos horários mais alargados. Escusado será dizer que mais funcionários implicam mais ordenados, mais segurança social, mais prémios, mais subsídios, mais seguros, etc. Como se vê, se a rentabilidade parece ser maior, as despesas também o são. Eis uma realidade indesmentível.
O problema do comércio tradicional não passa por eliminar a concorrência como maliciosamente pretende. O problema do comércio tradicional passa por tornar-se mais atractivo, exigente e, claro, moderno. Mas isso é um outro problema que o SITAM se recusa ver. Para finalizar apenas uma pergunta: se a medida proposta fosse para a frente, o SITAM tem ideia de quanta gente poderia ir para o desemprego?

Tudo pra medicina

Os dois melhores alunos da região do ano lectivo passado (3º ciclo e secundário) têm como meta de vida seguir medicina. Não tem nada de mau e é um objectivo legítimo.
Porém, a escolha não é inocente. Na base desta ambição está, quanto a mim, o mais serôdio espírito de funcionário público e de emprego certinho para vida toda.

Ainda não conheci nenhum aluno que, com média superior a 19 valores, queira outra coisa senão medicina. Sendo alunos excepcionais poderiam exercer uma centena de ofícios. Mas não, escolhem a medicina porque ainda é bem valorizada socialmente e a remuneração compensa.

Como Portugal é dos poucos países modernos que não exige pré-requisitos relevantes para se frequentar um curso da área da saúde, o mais certo é se perderem bons investigadores, cientistas e engenheiros e se ganharem mais médicos medianos. Há pouco tempo um professor da Faculdade de Medicina de Coimbra dizia que não se lembrava de ver tantos alunos com aversão a cadáveres como os das fornadas dos últimos cinco anos. Pudera, vai tudo pra medicina.

O PIB empolado e sem números

Até que enfim alguém veio explicar de modo inteligível o caso do empolamento do PIB da região. Com um argumento tão bom, como há muito o GR não dava à oposição, foi preciso alguém de fora vir trocar tudo por miúdos, por sinal um ex-ministro (Augusto Mateus) do primeiro-ministro mais gastador de sempre (António Guterres).

Por cá, durante semanas, o PS repetiu até à exaustão que o PIB madeirense estava inflacionado. Mas mais não disse. E não disse porque não faz trabalho de casa e porque, o que é mais certo, não tem gente capaz ligar três ideias e formar uma conclusão. A “cantilhena” foi sendo repetida dias a fio, pelo séquito de iletrados que formam a oposição política madeirense e pela JS, e de lá não se saía.

Durante estes dias, a conversa do PIB nem sequer avançou um número. Nem líquido, nem por comparação com os das restantes regiões portuguesas, nem com as europeias. Nada, não houve nada. Houve até um debate na televisão em que se andou a divagar à volta de “contas de mercearia” e, pasme-se, da honradez das contas dum merceeiro.

Gonçalo Cadilhe em Angola

O “escritor” que andou a passar férias na casa da cultura da Calheta afinal não é tonto de todo. A propósito de Angola disse ele o seguinte:

«Segundo a minha perspectiva histórica, foi um alívio para este país ver-se livre dos portugueses – eram, na sua maioria, saqueadores tacanhos e iletrados, que sabiam apenas olhar para o próprio umbigo. Em 500 anos a colonizar não soubemos nem semear cultura, nem permitir a educação, nem fomentar uma classe média entre os colonizados – muito menos dividir qualquer dividendo com eles. E por isso, quando nos fomos embora, foi o descalabro que se viu.»
Revista “ÚNICA”, Expresso nº 1767.

3.10.06

O real versus o obtuso

É caso para dizer que está tudo louco.

O Governo Regional foi confrontado com um buraco de 140 milhões de euros.

O Bispo já pediu perdão. Não sei se foi pela parte do bolo com que a Igreja foi servida, ou se pelos pecados que D. Teodoro Faria cometeu ao longo dos 50 anos de sacerdócio.

Rui Alves não pode ver Carlos Pereira. Agora percebo porquê. Com um vizinho como o Presidente do Marítimo……o que fez, é no mínimo, feio.

Pelo menos, uma coisa é certa. Na Madeira, os árbitros não foram enganados. Agora no continente, ofereceram-lhes gato por lebre.

29.9.06

Documentários

O problema está muito bem tratado aqui. Eu também conheço um bom punhado de pessoas, que tenho como inteligentes e informadas, que acreditaram nesta idiotia. Quando, por exemplo, Michael Moore, um tipo sem escrúpulos, lançou o seu documentário “Fahrenheit 9/11”, muita gente também assistiu espantada, extasiada e de boca bem aberta à “maldade" dos Bush e à sua "terrível conspiração”. Poucos conseguiram descortinar e perceber a abjecta manipulação e a montagem tendenciosa ao serviço de uma causa. O documentário levou a melhor: conseguiu fazer com que os argumentos principais se cingissem ao simplismo do costume da análise marxista: o petróleo ou o dinheito que é exactamente o mesmo. Perante a aleivosia e ignorância gerais, culpa do ensino, claro está, que não transmite nenhuma capacidade de transcendência crítica e que por isso reproduz indefinidamente estas cabecinhas, o mundo, como diria o outro, está mesmo perigoso.

Mais uma etapa

Já sabíamos que o fascismo higiénico e alimentar havia tomado conta da União Europeia. Depois de regulamentar sobre embalagens, amendoins, azeite e palitos, por exemplo, e depois da fundamentalista cruzada contra o tabaco, as baterias e os recursos desta união viram-se agora para o álcool e os seus malefícios. Como sempre, as coisas começam devagarinho, como convém para não dar muito nas vistas: primeiro, controla-se a publicidade – uma forma recorrente de tratar toda a gente como atrasada mental –; depois, proibi-se essa mesma publicidade – outra forma subtil de tratar toda a gente como deficiente profundo –; em seguida, aumentam-se os impostos sobre o produto em questão para torná-lo acessível apenas aos ricos (que assim se podem rir dos pobres); e, finalmente, e como último passo, torna-se o seu consumo socialmente insuportável e inaceitável, através de legislação absurda.
Escusado será dizer que esta gente começa a abusar: a abusar da nossa liberdade, a abusar do seu poder e, acima de tudo, a abusar da nossa paciência. Aos poucos, esta manta de retalhos substitui-se aos estados que, petrificados pelo politicamente correcto, rapidamente interiorizam estas práticas fascistas que têm origem nos radicais que querem viver duzentos anos e que fazem disso uma obsessão: sua e para os outros. Num mundo cada vez mais delicado e difícil é bom andar atento. E já agora de garrafa na mão. Só para a eventualidade de algum chatear mais do que o costume.

Conselhos gastronómicos

De acordo com a secção Pessoas do Público, o príncipe Carlos de Inglaterra anda muito preocupado com a alimentação dos seus futuros súbditos. Daí ter escrito um prefácio num livro recente onde ele avisa que os ingleses “deviam preocupar-se mais com o que comem e com a origem da comida”. Eu acredito na sinceridade do príncipe e até acredito que ele seja um consumidor ávido de produtos biológicos como a notícia deixa também transparecer. Mas desconfio sempre que uma pessoa que trocou uma Diana por uma Camila tenha bons conselhos para dar sobre gastronomia.

Contem comigo, Gonçalo "Che" e Comandante!

Uma pequena interrupção ao meu silêncio apenas para demonstrar a minha total disponibilidade para lutar ao lado do Comandante Gabriel e do amigo Gonçalo. E se a invasão é para ser a sério, posso já formar uma guarda avançada por aqui. Tenho certeza que o Nuno Camacho não se importará que ocupemos o Convento do Espinheiro Heritage Hotel, para nosso Quartel-General. Afinal é por um bom motivo. Vamos lá fazer cair esta República podre. Pela Madeira!

PS - Posso ocupar o hotel desde já? É que dava cá um jeitão!

28.9.06

Ah, os imortais, os imortais!

O PSD Madeira costuma falar a mais de uma voz. Aliás, normalmente são tantas as vozes quantas as situações o exigem.

Hoje, no NM, mais uma garganta se (a)levanta contra a República. Uma garganta que aliás já fazia falta à revolução, perdão, à revolta anti Sócrates.

Gabriel Drumond, mais conhecido como o Xanana de São Vicente (talvez seja o bigode, não sei), promete um (a)levantamento generalizado contra o socrático primeiro, um tipo comparável, na sua óptica, ao velho Salazar.

O (a)levantamento promete ser sangrento. E vai contar com o apoio dos madeirenses do além (mar).

Ah, meus amigos, ja me estou a ver, de arma na mão - uma caçadeira roubada ao meu avô - a calcorrear as encostas de São Vicente, à caça de (a)cubanos manhosos que nos querem "mamar" "oi'recursos".

Oh dias românticos que aí vêem! Eu, qual Robert Jordan do Ernesto, sujo e sangrento, dormirei nos braços da amada numa gruta lá pós lados do Curral. A lua cheia dará um ar bucólico ao cenário. O chilrear da passarada, logo pela manhã, só será interrompido pelo trovejar dos canhões ali pr'ás bandas de Câmara de Lobos.

Ah, que belos serãos os dias vindouros!

Digo-lhe já, amigo Gabriel, conte comigo na revolução!

Vamos, todos juntos, empurrar essa cubanada pó galinheiro (a)donde veio! Vamos marchar ao som da internacional (perdão) da regional marcha que abaixo cito:

"Fui à feira pa comprar uma bandeira
eu vi uma e gostei dela
era azul e amarela"

Vamos obrigá-los a recuar até Sagres! Ou, mais longe que isso, até Lisboa. Aliás, invadiremos essa pestilenta capital com as nossas foices (mas sem martelos, pa não haver confusões). E derrubaremos a estátua do marquês, esse odioso colonialista!

Connosco, não haverá "meias tintas", "chove mas não molha", "diz mas não faz" e essas tretas todas. Connosco, será sempre a direito até São Bento! Só se admite um pequeno desvio, ali pela zona das queixadas. De Belém.

Anseio que comece o alistamento. Que o Exército principie a ganhar forma. E corpo. Que as foices e as botas d'água comecem a ser distribuídas por essas lombadas fora. Anseio pelo inicío da Revolução!

Até porque "A man has to do what men have to do". É ou não é, meu general?

26.9.06

A chantagem

A Bulgária e a Roménia farão parte da nossa maravilhosa União já a partir de 1 de Janeiro de 2007. Esta notícia foi avançada pelo próprio presidente da comissão que afastou assim a possibilidade de adiamento relativamente a esta questão. De facto, os dois novos países, futuros membros, podem rejubilar com o seu futuro. Mas o mesmo não se sucederá com outros países que pretendam fazer parte desta agremiação. O Dr. Barroso, aproveitando a deixa, veio avisar que é impossível meter mais gente cá dentro enquanto não houver uma reforma (ler um novo tratado) das instituições que garanta a governabilidade deste monstro burocrático. A verdade deve andar algures por aqui, se bem que as questões ligadas à distribuição dos dinheiros não devem ser alheias a esta nova estratégia. Neste novo enquadramento, a Croácia, por exemplo, ou mesmo a Turquia, vêem assim goradas as suas expectativas. É um mau sinal porque ambas são vitais para a nossa paz e para a nossa segurança, tudo conceitos que na Europa passam muito ao de leve pelas cabeças de certos senhores. Não ver isto é perceber muito pouco de história e de geoestratégia. Entretanto, o Dr. Barroso, subtilmente como só ele sabe, ao mesmo tempo que colocava o dedo na ferida dava a receita da milagrosa poção para o seu curativo: ou toda a gente faz como nós queremos, ou nós levamos a chave do campo e a bola para casa. Não exactamente com estas palavras, mas exactamente com este sentido. Esta espécie de chantagem pretende comover os europeus e sensibilizá-los para as dificuldades que os eurocratas enfrentam no seu dia-a-dia e dar início, quem sabe, a um novo processo de ratificação de um tratado de constituição idiota, imaculado e sem contestação. Já pouco espanta nestes senhores, ainda pouco avisados. Em Bruxelas continua a viver-se num mundo paralelo sem qualquer correspondência com a realidade. E isto sim, é realmente comovente.

25.9.06

Estudar é uma festa

A Associação Académica da UMa veio anunciar ao mundo que a semana do caloiro vai crescer para dar lugar ao mês do caloiro. A rapaziada não faz a coisa por menos: se antes, e numa semana, as coisas já eram o que eram, imaginem um mês para tanta travessura. Claro que a desculpa do costume passa pela imperiosa necessidade de integração dos mais novos que, coitados, chegam à Universidade sem conhecer ninguém e sem saber como lidar com multidões em ambientes hostis. Não estamos no manicómio, mas os mais velhos, evidentemente, não querem que nada falte aos caloiros, incluindo umas belas pinturas no rosto e uma demonstração integral de que sabem ladrar quando estão de quatro e na praça pública. Não sei se semelhante dislate aplicar-se-á também à semana académica, mas convém esperar tudo destas humildes cabecinhas e das suas absurdas tentativas de prolongar a festa. No fundo – sempre podem justificar –, se é preciso um mês para entrar na universidade, é preciso um mês para sair dela.
Entretanto, um festival internacional de tunas vai durar três dias em Outubro. Esperam-se seis agrupamentos e uma centena de estudantes de vários pontos do país. Confesso que nunca gostei do género, repetitivo e monótono até à exaustão, mas isso, desconfio eu, é culpa do meu fraco e pouco educado ouvido musical. Mas estou extasiado com tanta actividade e ritmo académicos. Não há dúvida que estudar é uma festa.

22.9.06

O Sol


O novo semanário português não vem acrescentar nada de novo à imprensa que se faz em Portugal. O jornal, do ponto de vista da organização das rubricas, é caótico. Política e Sociedade, Conversas na Prisão, Asfalto, Solidariedade, Estilo, Opinião, Desporto, vem tudo misturado. Se, com ventania, se deixar o jornal desfolhar no chão e depois se juntar tudo em ordem diferente quase não se dará pela diferença.

Na Opinião, que é o credibiliza qualquer jornal, não há verdadeiramente ninguém de peso. Nem mesmo o professor Marcelo que, como se sabe, quer estar sempre de bem com todos, com Deus e com o Diabo. Depois, não sei se será só nestas primeiras edições, o semanário dá importância a um conjunto interminável de irrelevâncias que ao fim de poucas semanas tornar-se-á num aborrecimento.

Positiva é a apresentação dos accionistas da publicação na revista Tabu. Têm rosto, negócios e, evidentemente, objectivos. A saber: José Paulo Fernandes, Joaquim Coimbra e Paulo Azevedo. Ainda que pareça bem, convém também desconfiar deste jogo de sinceridade.

Mau por mau, por mim vou me valendo do Público e do Expresso, mas só quando este trás DVD’s.

O grosso dos agentes educativos

Já deu para ver que mesmo antes de se propor uma qualquer medida em Educação os professores, por defeito, já estão contra. Como há muito os docentes estão “sequestrados” pelos sindicatos, não é possível, pelos menos na próxima década, andar-se um passo que seja para a frente.

No debate promovido esta semana pela RTP deu para ver isso mesmo. À excepção da ministra, que, com todos os seus defeitos, sabe ao menos como deverá funcionar um sistema educativo orientado para resultados (e não para vacuidades como formar bons cidadãos), a literacia dos restantes intervenientes foi de morrer.

O que aquele conjunto de pessoas diz, e que ainda por cima acredita mesmo no que diz, não nos levará a lugar nenhum. O seu entendimento do assunto educativo não ultrapassa a sociologia vulgar assente em pensamentos como “a escola é o reflexo da sociedade em que vivemos”. E daí não saem. E até fazem estudos, com amostras faraónicas, para chegar à conclusão de que os pais (60%) têm confiança nos professores portugueses. Está bem, e o que é que isso interessa?

Sem ser da boca da ministra, praticamente não se ouviu falar de testes, exames, mérito, ensino científico, exigência, competência. Tudo isto, para nosso grande mal, soa a estranho ao grosso dos agentes educativos.

Cortar as mãozinhas


Gostava, a sério que gostava, de ver os autores da “brincadeira” dos incêndios nas zonas altas do Funchal ficarem sem as mãos que atearam o fogo. E nisto o velho método árabe é preventivo:
– Meu amigo, com que mão pegaste fogo à floresta?
– Foi com esta.
– Então é mesmo essa que te vamos cortar. Zás.

Compromissos II

No telejornal da RTP de ontem, o colóquio, como jocosamente lhe chamou o ministro Silva Pereira, Compromisso Portugal, teve honras de elevado destaque. Como não podia deixar de ser, o Dr. Carrapatoso foi aos estúdios explicar as ideias profundas produzidas no Convento do Beato destacando-as como evidentes mais-valias para o nosso futuro. Ninguém explicou se ele (o futuro) seria mais ou menos negro, mas penso que isso será pormenor de somenos importância, uma vez que as ideias do bando são para discutir e não para praticar. O Dr. Carrapatoso candidamente identificou os problemas do costume como qualquer estudante do 12º ano: há problemas na justiça, na educação, no Estado, na qualificação dos portugueses, nas leis laborais, enfim, a ladainha de sempre que faz do nosso país um país adiado e com crescimento estagnado. Nada de novo aqui, portanto. Antes do Dr. Carrapatoso despejar a sua teoria económica, já o telejornal havia dado profundo destaque às palavras do Dr. Alexandre Relvas (um tipo género António Borges e que já foi carinhosamente baptizado de Mourinho pelo Dr. Cavaco em plena campanha eleitoral), um dos responsáveis pelo colóquio (como jocosamente lhe chamou o ministro Silva Pereira, convém não esquecer) e figura pelos vistos muito conceituada no meio empresarial. No meio dos lugares comuns da sua intervenção (género discurso do Eng. Sócrates na ONU), eis que o telejornal decide destacar uma das emblemáticas frases do discurso do Dr. Relvas: “Nenhuma empresa sobreviveria se fosse gerida como é gerido o Estado português”. A frase não é original, mas demonstra bem a vacuidade de certa gente e as razões pelas quais não são, nem podem ser, levadas a sério. O Dr. Relvas não percebe a diferença entre as funções do Estado e as funções das empresas. Confunde ambas e limita-as a uma simples questão de gestão. O Dr. Relvas não devia ser assim tão básico. Mas paciência. Azar o dele. Alguém que lhe explique as diferenças. Se houver paciência.

PS: também foram perguntar ao Dr. Mendes o que é que ele achava do colóquio (como jocosamente lhe chamou o ministro Silva Pereira, convém sempre relembrar). O Dr. Mendes, obviamente, louvou a iniciativa apelidando-a de “positiva”, realçando, contudo, que não concordava com muitos dos seus pontos de vista. Claro está, que o Dr. Mendes é contra o despedimento dos 200 mil funcionários do Estado. Como convinha confirmar. Não vá o diabo tecê-las.

Bom fim de semana



















Cezanne sous-bois Provençal

21.9.06

Compromissos

De vez em quando, um bando de gente ilustre lança-se à conquista da sociedade civil prometendo o paraíso na terra e a miraculosa cura para todos os nossos males. Temo bem que eles só se lembrem da maioria das pessoas nas épocas de crise em que os negócios não correm de feição e o crescimento económico fica aquém do desejado.

A nova edição do Compromisso Portugal (compromisso com quem e com quê?) é um belo exemplo do surrealismo económico que quer fazer de Portugal um país sério, de vanguarda e de topo, suponho eu que mundial. Claro que poucos sabem como é que o país na realidade funciona, pois o problema dos economistas portugueses não é não terem muitas vezes razão, como decerto muitos reconhecem: é não perceberem que a realidade desmente o sonho (ou a utopia se preferirem) que eles querem alcançar.

O Portugal que temos é um Portugal que não vive sem o Estado, sem a sua segurança e que se alicerça precisamente num certo imobilismo social e no respeitinho pelos costumes e pelas práticas instituídas. É interessante, aliás, analisar como os políticos portugueses contemporâneos mais amados, Cavaco e Guterres, foram os que mais seguiram esta estratégia, engordando à grande o Estado, atraindo os portugueses e transformando precaridades em garantias reais de segurança. Construiu-se assim, uma classe média que, mesmo ténue, decide eleições e tem algum poder de compra. Em troca, ela só exige do Estado a tal segurança, no seu sentido mais lato e abrangente – no emprego, na segurança social, na saúde, no ensino, por exemplo. Não estranhem, por isso, o Portugal do século XXI. Não se apaga da memória nem se mexe nas suas estruturas sem consequências sérias e graves, sem motins ou revoluções.

Quem não conhece a realidade, pouca legitimidade tem para os conselhos. E o problema do Compromisso acaba por ser precisamente esse: não consegue estabelecer qualquer conexão entre aquilo que propõe e a sua implementação; ou, para sermos mais claros, não consegue estabelecer nenhuma possibilidade de relação entre as teorias que defende e as práticas que são possíveis. Por isso, dizer que o Estado tem de despedir 200 mil funcionários em cinco anos, pode ser uma medida económica muito bonita e necessária e que eles, lá entre si, vão aplaudir em força enquanto não acordam do sonho e do delírio colectivo do encontro. Mas uma coisa é fechar uma fábrica e colocar algumas centenas no desemprego. Outra coisa, bem diferente, é mandar quase um quarto de milhão para casa por conta do Estado. Uma multidão em fúria não se controla.

20.9.06

Uma escolha

O problema de avançar com nomes nos jornais não é apenas uma questão de acerto ou não acerto, como alguns parecem acreditar. Muitas vezes, os nomes avançados servem ou para lançá-los numa corrida ou, pelo contrário, para queimá-los nessa mesma corrida. Os jornalistas são assim usados em nome de interesses dúbios, tornando-se, consequentemente, cúmplices das maroscas e da má-fé de alguns invejosos. Também haverá casos, em que os exercícios de adivinhação não passam de mau jornalismo sem qualquer base sólida com o intuito de fabricar uma grande notícia. Em ambos os casos, o resultado pode ser desastroso. Por um lado, pode promover-se quem não merece o que leva, por um outro lado e como resultado imediato, à não promoção de alguém muito mais competente. Isto acontece de cada vez que algum lugar importante fica vago, por exemplo, no Estado. Desta vez, e apesar do DN ter feito uma não-notícia, optou-se, e bem, por fechar rapidamente o processo para não dar azo a muitos exercícios especulativos. Mas é sempre bom estar atento a algumas manobras menos claras.

19.9.06

A verdade das Palavras

A VERDADE DAS IMAGENS não passa de um pseudo documentário.

Tem muitas fragilidades técnicas. Além disso, não consegue atingir os objectivos para os quais foi realizado, porque não é ficção, não é documentário. É uma produção “doméstica”.

Ainda por cima, sabe-se que, a encomenda, tem um objectivo. Mostrar que depois das obras; muralha, enrocamento ou o que lhe queiram chamar, existem condições para a prática do surf no Jardim do Mar.

Neste aspecto o filme falhou. Durante os cerca de 8 minutos de documentário, só foram filmados 8 planos que incluem: obra, surfistas e mar aberto com ondas. Para quem conhece de montagem, sabe que é fácil captar imagens num local de surf, algures no mundo, e inseri-las no trabalho que foi, supostamente, realizado na região. Não estou com isto a querer dizer que as imagens não são do Jardim do Mar. O contrário também não posso afirmar. O enquadramento dos planos não me dá essa garantia. O realizador optou por filmar planos demasiado fechados, o que se torna impossível identificar o local da acção. Uma outra possível “manipulação” é as imagens terem sido captadas antes da realização das obras. São dois, pormenores, tecnicamente executáveis, que deitam por terra o objectivo número um do “CONTRA-DOCUMENTÁRIO” como alguém já lhe chamou. Falta-me ver o outro. “A Jóia Perdida do Atlântico” para pronunciar-me sobre as polémicas imagens.

PS- "A Verdade das Imagens" é um documentário apresentado pela Secretaria do Equipamento Social e Transportes para contrariar a ideia "errada" de que as obras acabaram com o surf. Dizem que está na net. Procurei-o, mas não encontrei. Agradece-se o contributo de quem saiba para disponibilizá-lo aqui.

As noites de Budapeste (e da Europa Central)

Prólogo: Fecha os olhos e deixa-te conduzir.Estás em Budapeste. Inverno de 91. Ano 1 da queda do comunismo. É noite desde as 3 da tarde. O tempo está frio, gelado. Olhas à tua volta e vês uma cidade escura, de belos edifícios decrépitos, ruínas, fachadas enegrecidas pela poluição. Por todo o lado, filas de vendedores do mercado negro. As paredes estão repletas de cartazes, numa língua impossível, indecifrável. Tu sentes-te perdido. Mas eu conduzo-te. Segue-me.

Cá vou eu no meu Traby
De bar em bar a aviar
Sempre a abrir a noite toda
Sempre a rock & rollar

Charro aqui charro ali
Mais um vodka p'ra atestar
Corro Peste corro Buda
Sempre a rock & rollar

As noites de Budapeste
São noites de rock & roll

P'las caves da cidade
São só bandas a tocar
Pondo tudo em alvoroço
Tudo a rock & rollar

Mulheres lindas de morrer
Mini-saias a matar
Não tem fim o reboliço
Tudo a rock & rollar

As caves de Budapeste
São caves de rock & roll

Cá vou eu no meu Traby
De bar em bar a aviar
Sempre a abrir a noite toda
Sempre a rock & rollar

Charro aqui charro ali
Mais um vodka p'ra atestar
Sempre a abrir a noite toda
Sempre a rock & rollar'

As noites de Budapeste
São noites de rock & roll

Adolfo Luxúria Canibal - Mão Morta

O optimismo começa a desvanecer-se em Budapeste. O plano de austeridade aprovado pelo Governo Socialista de Ferenc Gyurcsany, tido como necessário, tem dificultado a subsistência de milhares de húngaros.

Ontem, vários movimentos de extrema direita organizaram uma manifestação para apelar à demissão do primeiro ministro, acusando-o de mentir. De manhã, acamparam à frente do Parlamento e da Sede de Governo. À noite, tentaram ocupar a sede de um canal de televisão, para ler um comunicado à população. A polícia entrou em acção. Mais de 100 carros foram incendiados. Mais de 150 pessoas ficaram feridas.

Segundo a agência Lusa, as manifestações tiveram origem na divulgação, pela rádio pública húngara, no último domingo, da gravação de um discurso à porta fechada feito pelo primeiro ministro aos deputados do partido socialista em Maio passado, no qual declarou que o governo só fez disparates e mentiu durante um ano e meio, para esconder o seu projecto de plano de austeridade, considerado doloroso embora necessário.

O Público ainda vai mais longe, escrevendo que Gyurksany referira, no mesmo momento, que a Hungria só não estaria em recessão "graças à divina providência, à abundância de dinheiro na economia mundial e a centenas de truques".

Segundo o mesmo jornal, o gabinete do primeiro-ministro já reconheceu a veracidade dos excertos publicados, mas minimizou os apelos para a demissão do Governo. Em duas entrevistas à televisão estatal, Gyurcsany tentou centrar a discussão nos erros cometidos pela elite do país desde a queda do comunista, afirmando ser urgente reformar o sistema político.

O certo é que, mais do que a adesão às manifestações de ontem na Hungria, o crescimento gradual da extrema direita no país e em toda a Europa Central deve ser motivo de reflexão.

Na terra dos magiares, a "mentira" de Gyurcsany foi a "gota de água que fez transbordar o copo", dando aos movimentos mais radicais de direita um pretexto para mostrar aquilo que valem.

E se por enquanto ainda não valem mais do que uns milhares de manifestantes, poderão, com acções do género, cativar muitos mais. E não são necessárias grandes doses de criatividade. "Basta" que o desemprego suba, que a insegurança aumente, que o nível de vida oscile. E que o discurso seja suficientemente demagógico para cativar jovens desenraizados sem passado e com pouco futuro.

Na Alemanha, ainda esta semana o Partido Nacional Democrata ultrapassou as barreira mítica dos 5% nas regionais realizadas no mais pobre dos estados alemães, Mecklenburg-Pomerânia, conseguindo representação parlamentar.

Recentemente, um relatório da Central de Protecção da Constituição Alemã, a que o jornal francês Le Monde teve acesso, dava conta de que no país de Angela Merkel existam mais de 9.000 skinheads, sendo que os actos de violência atribuídos aos extremistas cresceram 5,4% em apenas um ano. A esmagadora maioria dos "cabeças rapadas" vive nos territórios da antiga RDA.

Calculam-se existirem, na Alemanha, 49 organizações de extrema direira, sendo a maior o Partido Nacional Democrata, que afirma ter por missão "politizar os skinheads". E se melhor o diz, melhor o faz, colocando espaços seus à sua disposição de grupos de skin, convidando-os para organizar espectáculos e organizando os esquemas de transporte até os locais das manifestações. Em troca os skin só têm de divulgar os eventos.

Face ao cenário, o Governo Federal da Alemanha, pela voz da Ministra da Familía, Ursula von der Leyen, anunciou já um investimento de 19 milhões de euros, em 2007, com o objectivo de reforçar a diversidade e a tolerância e democracia.

Se na Hungria e na Alemanha a situação é mais visível, a verdade é que os movimentos de extrema direita grassam em toda a Europa central, ganhando força na mesma proporção em que o desemprego aumenta, os preços sobem e os salários reais se desvalorizam.

São noticiados, frequentemente, ataques contra extrangeiros em Moscovo e em diversas cidades da Federação Russa (calcula-se que existam 50.000 skinheads nas repúblicas), na Ucrânia, na Bielorussia, na Roménia, entre outros estados da Região.

Até na Turquia, as Brigadas de Vingança Turca reenvindicaram, há uma semana, um atentando que matou 10 curdos.

Não me parece que a situação seja absolutamente dramática - não faço a figura patética que fazem alguns histéricos dirigentes do bloco e do PC em Portugal (também eles extremistas), que às vezes parecem estar rodeados de fascistas e neo-nazis prontos a tomar o poder - mas exige alguma reflexão. Porque pretextos aparecem sempre...

Where will you find him?

Um anúncio que usa a imagem de Jesus num copo de cerveja está a provocar discussão pública em Inglaterra. A campanha foi criada a pedido de um grupo de igrejas que pretendem incentivar os fiéis a ir à missa no Natal.

A imagem de Cristo aparece no vidro do copo juntamente com a frase "Where will you find him?".

As igrejas afirmam que querem chamar a atenção para o vazio espiritual do Natal e oferecer Jesus Cristo como alternativa.

Este não é o primeiro anúncio do grupo a gerar confusão, já que há alguns anos, um outro fazia referência a Jesus como líder revolucionário, lembrando Che Guevara.

Em 1999, a Igreja Católica Romana abandonou o grupo por não concordar com os métodos utilizados.

Where will you find him?

18.9.06

Propostas

A marcha pelo emprego do Bloco de Esquerda terminou em aparente apoteose. Aos jornais, uma tal de Helena Pinto, defendeu uma semana de quatro dias de trabalho, com redução imediata do número de horas semanais de 40 para 36. Ninguém, obviamente, se questionou sobre o impacto negativo e da consequente inexequibilidade destas propostas, que roçam o absurdo e a mais abjecta da demagogia. Tudo pormenores recorrentes em organizações deste calibre, apostadas essencialmente na aparência efémera das coisas. Mas confesso que nesta miscelânea, onde pontifica gente muito estranha, embora se diga “inteligente”, os artistas são de facto imaginativos.

Estejam mas é quietos!

O jogo de Andebol do Estádio de Alvalade mostrou porque razão são os próprios árbitros a recusar a profissionalização.

Recusam-na porque disfrutam de um estatuto de impunidade único, podendo cometer os erros que quiserem sem serem punidos.

Ficam assim livres para fazerem os favores que lhes são pedidos pelos "reis" do Pontapé na Bola. Em troca de "meninas" ou "meninos" - depende das preferências - nos quartos de hotel, de viagens, de relógios ou de outras coisas que tais.

No futebol existem coincidências no mínimo estranhas. Se não vejamos: Foi o presidente do Benfica (honra lhe seja feita) que ressuscitou o Apito Dourado.

Logo no primeiro jogo da época, no Estádio do Bessa, frente ao Boavista, calhou aos encarnados que o árbitro fosse um tal de João Ferreira, por sinal fortemente indiciado no processo.No Bessa, a arbitragem dessa personagem foi claramente tendenciosa, prejudicando o Benfica.

Curiosamente, uma semana depois o presidente do Sporting falou pela primeira vez sobre o Apito Dourado.

No fim de semana, chegou a Alvalade um tipo que não só deixou passar um golo com a mão, como não viu um penálti claro na área do Paços de Ferreira e como se enganou sistematicamente - ele e os assistentes - na marcação de foras de jogo. E para não destoar, ainda permitiu que os jogadores do Paços de Ferreira simulassem lesões, demorassem tempo excessivo na reposição de bola e fizessem inúmeras faltas sem que lhes fosse mostrados cartões amarelos. Sabem quem era o “rapazinho”? Pois, chamava-se João Ferreira e é mais conhecido por ser um dos "meninos do major".

A mim, parece-me que a Liga, com o que resta do seu poder, enviou um aviso claro às duas equipas de Lisboa: Estejam quietos, porque os João Ferreiras deste mundo podem cair-vos em cima!

16.9.06

Cidades Educadoras

Um evento fundamental, que deveria interessar a todos os portugueses com responsabilidades ou interesse na educacao, nas que passa ao lado da maioria. Enfim, mas por ca estou e escreverei sobre o que de importante por aqui se passou.

PS Ha quantos anos nao escrevia num teclado azerty!!!

15.9.06

A saúde precisa de ir ao Médico

É mais um caso entre outros. Segunda-feira faleceu uma jovem com 20 anos, de meningite no hospital.

O conselho de Administração do Serviço Regional de Saúde prometeu dar uma explicação, até quarta-feira. Já passaram dois dias e o dito Conselho nada disse.

Considero que existem alguns factos por esclarecer, apesar de saber que dificilmente vão existir culpados.

É prática comum, nestes casos, a tutela elaborar relatórios técnicos, imperceptíveis ao comum dos mortais. Até os próprios médicos, não os conseguem explicar.

A Ordem dos Médicos, também não actua, apesar do assunto já ser público.

Só levanto mais uma questão. Como é que os médicos conseguem realizar diagnósticos correctos se trabalham, por dia, 10 e 12 horas todos os dias. De manhã estão no hospital. À tarde nos consultores e clínicas privadas. Ao fim de um mês, são poucos os seres humanos capazes de resistir a tanta fadiga. No entanto, os nossos profissionais da saúde fazem-no o ano inteiro. Enquanto, parece-me evidente que cometem alguns pequenos pecados, mas como não há ninguém que lhes faça nada….


PS- segundo a família, a jovem foi várias vezes às urgências do Centro de Saúde de Machico (pelo menos 5). Além disso, foi observada na terça-feira (5/10/06) no Hospital. O médico não lhe conseguiu fazer um diagnóstico correcto. É no mínimo lamentável. Como a jovem continuava com o mesmo problema de saúde - uma sinusite acompanhada de fortes dores de cabeça- recorreu à medicina privada. Passou duas vezes pela Clínica de Santa Luzia (quarta-feira e sexta-feira de manhã). Mais uma vez o médico que a observou falhou no diagnóstico. Na altura a jovem já tinha a vista esquerda muito vermelha e a cara enxada. No hospital fizeram-lhe um “RX” aos pulmões e mandaram-na para casa tomar a medicação que estava a fazer. Voltou às urgências do hospital na sexta-feira, depois de ter passado,pelo Centro de Machico. Deu entrada nas urgências à meia-noite. Só foi atendida 2 horas depois, segundo o que disse o médico que foi nomeado para falar sobre o caso. Do Hospital enviaram-na para os Marmeleiros durante o dia de sábado. Dos Marmeleiros, regressou no domingo, aos cuidados intensivos da Cruz de Carvalho, onde faleceu na madrugada de segunda-feira.

14.9.06

Save the Waves.

É com certeza um filme incómodo para a Madeira e (I)nconveniente. Vem mesmo a propósito, “Uma Verdade Inconveninte”, é outro alerta sobre como vai o mundo que estreia esta quinta-feira em Portugal.

O interessante é que “Lost Jewel of the Atlantic" e Uma verdade Inconveniente” são realizados segundo a mesma matriz. De uma forma “despretensiosa”, diria lúdica, os dois documentários questionam a intervenção do homem no meio ambiente.

É óbvio que as escalas são incomparáveis. Enquanto “Lost Jewel of the Atlantic” ocupa-se da micro- “aldeia” do Jardim do Mar, o objecto da análise de “Uma verdade Inconveniente” é o planeta.

No resto, os objectivos até são os mesmos. Partilham uma idêntica matriz cinematográfica, neste caso, o documentário. Um género, que curiosamente, volta a estar na moda. Há muitos anos, para não exagerar (50), que não estreavam tantos documentários. Além da dose exagerada, que foi o 11 de Setembro, os que foram, entretanto realizados, foram remetidos para os festivais da especialidade.


Mas de volta a “Lost Jewel of the Atlantic” para acrescentar que um documentário, e este não foge à regra, é sempre o ponto de vista do realizador.

É óbvio que qualquer documentário parte de uma base sólida de factos. Caso contrário, seria insustentável produzi-lo. É no entanto, necessário não esquecer que há um objectivo por detrás. Julgo que a intenção, neste caso concreto do realizador é questionar, provocar o cidadão para as obras que foram realizadas no Jardim do Mar.

Seriam necessárias para a protecção da costa como justifica o governo? Quem faz, (as obras) apresenta argumentos “saudáveis” para justificar a acção. Quem crítica, coloca a nu algumas das fragilidades dessa acção. É neste binómio, bem-mal, que o mundo gira. É a partir deste confronto de ideias que é solicitado, a cada um que faça o seu próprio juízo de valor, sobre o que vai ver.